O Presidente da Bolívia, Evo Morales, “pode ter razões de queixa” no incidente diplomático que o impediu de voar sobre Portugal. A admissão é de Paulo Portas, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros não pede desculpa: envia uma “palavra de reparação”.
O incidente diplomático entre a Bolívia e alguns países da União Europeia (UE), como é o caso de Portugal, continua por resolver. Paulo Portas, o ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros cuja demissão não foi aceite, admite que o Presidente boliviano, Evo Morales, “pode ter razões de queixa” por ter sido impedido de voar em determinados países, como por cá aconteceu.
De acordo com um comunicado enviado à Lusa por Miguel Guedes, o porta-voz do ministro, o chefe de Estado da Bolívia teve direito a uma “palavra de reparação”, já formalmente apresentada por Portugal, mas não a um pedido de desculpa, termo que nunca aparece no texto.
A “palavra de reparação” aparece como um “contributo de Portugal para superar a tensão entre os países do Mercosul e os países da UE”, depois de Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela (que integram o mercado económico sul-americano) terem apresentado o “firme repúdio” contra Portugal, Espanha, França e Itália, os quatro países que impediram Evo Morales de voar de Moscovo para La Paz, obrigando o Presidente a ficar retido durante 13 horas no aeroporto de Viena (Áustria).
Paulo Portas terá “reunido demoradamente com os embaixadores do Mercosul na segunda-feira”, refere a mesma nota assinada por Miguel Guedes, e após esse encontro o ministro “tomou a iniciativa de falar com o colega boliviano, na passada terça-feira, oferecendo uma ‘palavra de reparação’ por parte do Governo português”.
Portugal foi o único país a revogar a autorização de voo, alegadamente por “razões técnicas”, enquanto os restantes três encerraram o espaço aéreo. Foi um tratamento “infundado, discriminatório e arbitrário” e uma “prática neocolonial”, acusaram os cinco países sul-americanos.
“A singularidade da posição portuguesa”, explica o comunicado, ocorreu porque Portugal “sempre autorizou o sobrevoo do seu território, informou antecipadamente as autoridades bolivianas das decisões e não exigiu quaisquer garantias sobre a composição da comitiva do Presidente Morales”.
O incidente diplomático, ocorrido a 1 de julho, teve origem na suspeita de que o chefe de Estado boliviano poderia estar acompanhado de Edward Snowden, o analista informático norte-americano que revelou os esquemas de violação da privacidade e espionagem praticados pelos EUA. As autoridades portuguesas sempre justificaram a revogação da autorização de voo com “considerações técnicas”.