Populares de Morgade que se opõem à exploração de uma mina de lítio a céu aberto nesta freguesia de Montalegre repetem hoje um “voto de protesto” e recusam-se a votar nas eleições legislativas.
Esta manhã verificou-se, inclusive, uma tentativa de boicote em três mesas de voto das aldeias de Morgade, Cortiço e Arcos, no concelho de Montalegre, distrito de Vila Real.
Fonte da GNR disse à agência Lusa que em Cortiço e Arcos foram encontradas chaves partidas nas fechaduras das portas dos edifícios e, em Morgade, os portões estavam fechados com cadeados e a fechadura da porta colada.
De acordo com a fonte, as três mesas de voto estavam a funcionar normalmente às 08:00, hora do início do ato eleitoral.
“Esta manhã deparámo-nos com as instalações vedadas a cadeado, a fechadura vandalizada e teve que se recorrer ao arrombamento das portas para colocar a mesa de voto em funcionamento. Não votarem, tudo muito bem, agora andarem a vandalizar as coisas eu não concordo”, disse o presidente da Junta de Freguesia de Morgade, José Nogueira.
Nesta localidade, repete-se hoje um apelo à abstenção nas legislativas como forma de protesto contra a mina de lítio a céu aberto anunciada pela empresa Lusorecursos para esta freguesia que agrega as aldeias de Morgade, Carvalhais e Rebordelo e onde estão inscritos 325 eleitores.
Nas europeias de maio votaram apenas quatro eleitores e, nesse dia, a mesa de voto abriu com um atraso de cerca de uma hora e meia, também devido à porta trancada do edifício da junta.
“Podemos mostrar às pessoas que efetivamente estamos contra, que não queremos aqui a exploração mineira, mas de uma forma ordeira”, salientou José Nogueira.
O autarca disse que também não vai votar hoje.
Junto à sede da Junta de Freguesia, onde está instalada a mesa de voto, concentraram-se dezenas de populares e pela aldeia foram também colocadas tarjas de grande dimensão onde a principal mensagem que se pode ler é “não à mina, sim à vida”.
“Nunca fomos ouvidos em todo este processo e não aceitamos que queiram construir uma mina ao lado das nossas casas que vai alterar completamente a nossa forma de vida. Não aceitamos que alguém em Lisboa decida que quer destruir parte das nossas aldeias e serras e a nossa qualidade de vida”, afirmou Armando Pinto, porta-voz da Associação Montalegre Com Vida.
Este é, segundo o responsável, mais um “voto de protesto”.
Além das preocupações com a dimensão da cratera da mina, a população aponta ainda preocupações relacionadas com os prejuízos ambientais, as consequências para a qualidade da água e do ar, os impactos sobre os solos ou sobre a classificação como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
“Nós estamos a apelar a que as pessoas não votem porque é a única forma de os membros do Governo e quem está na iminência de entrar para o Governo nos ouvirem. Estamos a lutar contra a destruição da nossa terra. Não, não à mina”, afirmou Teresa Dias, também residente em Morgade.
Vítor Santos voltou a juntar-se ao protesto de hoje para mostrar que está “contra a mina” e a forma como a “mina foi concebida”.
“As aldeias estão muito próximas da concessão e isso traz impactos enormes aos habitantes das três aldeias. Eu tenho a certeza que se a mina for para a frente as pessoas não vão poder viver aqui”, sublinhou este popular.
Em Montalegre, a Lusorecursos Portugal Lithium, empresa que em março assinou o contrato de concessão com o Estado para a mina do Romano (Sepeda), anunciou um plano de negócios de 500 milhões de euros, a criação de cerca de 500 postos de trabalho e a implementação de uma unidade industrial.
A empresa está em fase de elaboração do respetivo estudo de impacto ambiental (EIA).
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