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Ponte “psicológica” une Macau e Hong Kong à China comunista mas uso é “pouco”

Prestes a atravessar a megaponte Hong Kong-Zhuhai-Macau (HKZM), a maior travessia marítima do mundo, o funcionário público aposentado Zhang Lei não tem dúvidas: o Partido Comunista Chinês é “grandioso” e a China é “number one”.

“Hong Kong e Macau já estão unidos à pátria; a seguir é Taiwan”, descreve Zhang, de 60 anos, à agência Lusa, junto à entrada para o posto fronteiriço em Zhuhai, cidade da China continental que faz fronteira com Macau.

Hong Kong e Macau foram integrados na República Popular da China em 1997 e em 1999, respetivamente, com o estatuto de regiões administrativas especiais, sob a fórmula ‘um país, dois sistemas’, que garante que as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam nos territórios, que gozam de “um alto grau de autonomia”, à exceção da Defesa e das Relações Externas, que são da competência exclusiva do governo central chinês.

Taiwan funciona como uma entidade política soberana, desde que, em 1949, o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. No entanto, Pequim considera Taiwan parte do seu território e ameaça usar a força caso Taipé declare independência.

Inaugurada em 22 de outubro, a ponte HKZM é um marco do projeto de integração regional da Grande Baía, que visa criar uma metrópole mundial a partir dos territórios de Hong Kong, Macau e nove localidades da província chinesa de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing).

A ponte custou aos governos de Macau e de Hong Kong e da província de Guangdong cerca de 1,9 mil milhões de euros.

Mas para além de visar a integração económica, a infraestrutura tem um simbolismo político, como ilustram os comentários de Zhang Lei, que viajou milhares de quilómetros, desde o nordeste da China, para atravessar a ponte.

“Tem um efeito psicológico: une os três lugares”, resume aos jornalistas Wei Dongqing, um dos responsáveis pelo projeto, que liga as antigas colónias portuguesa e britânica ao continente chinês. “Estamos confiantes no futuro: um mercado unido, um povo unido”, explica. “É esse o sonho”.

Wu Ting, fundadora da escola de negócios Jiabin, diz à agência Lusa que, apesar do retorno de Macau e Hong Kong à China, faltava ainda uma ligação terrestre entre as partes.

“A nível político precisávamos desta ligação”, aponta. “Por outro lado, tem um significado social: une o povo cantonês, que fala o mesmo dialeto e partilha da mesma cultura e laços sanguíneos”, acrescenta.

Trata-se da maior ponte do mundo sobre o mar, com uma estrutura principal de 29,6 quilómetros – uma secção em ponte de 22,9 quilómetros e um túnel subaquático de 6,7 quilómetros – , numa extensão total de 55 quilómetros.

A construção começou em 2011 e previa-se a abertura para 2016, mas vários problemas, como acidentes de trabalho, uma investigação de corrupção, obstáculos técnicos e derrapagens orçamentais obrigaram a um adiamento da inauguração.

Segundo dados do ministério chinês dos Transportes, no primeiro mês desde a abertura, a ponte serviu 1,79 milhão de passageiros.

“O volume de trânsito foi baixo (…) aquém das expectativas”, admite Yu Lie, vice-diretor da autoridade para a ponte, que culpa o sistema de quotas.

Macau, por exemplo, tem direito a apenas 600 quotas para veículos locais circularem entre a cidade e Hong Kong através da nova ponte.

“Após um período inicial, terá de ser feita uma avaliação, e há a possibilidade de aumentar o número de quotas”, explica Yu.

“Mas devido à atual política ‘um país, dois sistemas’, e diferentes regras de trânsito, este é um processo preliminar. É preciso esperar que o projeto da Grande Baía esteja implementado”, explica.

“A longo prazo, existe a possibilidade de todos os carros de Macau e Hong Kong poderem usar a ponte”, prevê.

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