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Polícias negam em tribunal agressões e insultos racistas a jovens da Cova da Moura

Cinco dos 17 polícias suspeitos de agressões e insultos racistas a jovens da Cova da Moura, na esquadra de Alfragide (Amadora) em 2015, negaram hoje em tribunal as acusações, mantendo que a esquadra foi alvo de tentativa de invasão.

“Fui acusado de crimes em que não me revejo”, afirmou um agente da PSP perante o coletivo de juízes do Tribunal de Lisboa Oeste, em Sintra, acrescentando que é casado com uma cabo-verdiana, com quem tem dois filhos.

O arguido admitiu que só não pediu baixa psicológica porque isso na PSP representa “uma sentença de morte” em termos profissionais e mostrou-se indignado por estar acusado de “ser racista” e de “agredir pessoas por causa da cor” da pele.

Os 17 arguidos respondem por denúncia caluniosa, injúria, ofensa à integridade física e falsidade de testemunho, num caso que remonta a 05 de fevereiro de 2015, por alegadas agressões a jovens da Cova da Moura na esquadra de Alfragide, estando ainda acusados de tortura, outros tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos, de sequestro agravado e falsificação de documento.

Segundo a acusação do Ministério Público (MP), os elementos da PSP, à data dos factos a prestar serviço na Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial da Amadora, espancaram, ofenderam a integridade física e trataram de forma vexatória, humilhante e degradante as seis vítimas, além de incitarem à discriminação, ao ódio e à violência por causa da raça.

O agente hoje ouvido pelo tribunal admitiu que reconheceu na esquadra o jovem detido na Cova da Moura, na sequência do alegado apedrejamento a uma carrinha policial, por este cantar em vídeos que costuma seguir, mas negou as acusações, que levam a mulher a ser questionada nas redes sociais se é casada com “o bófia” envolvido no caso de violência policial.

Outros agentes contaram aos juízes como um grupo de “entre 15 a 20” jovens terão tentado invadir a esquadra, para resgatar o jovem detido no bairro, atirando pedras contra as paredes das instalações e conseguindo alguns deles furar a barreira de três polícias, acabando na detenção de cinco alegados invasores.

Os cinco arguidos, à semelhança dos anteriores ouvidos pelo tribunal, criticaram a forma como a Polícia Judiciária efetuou as sessões de reconhecimento, vestindo à civil, quando se encontravam fardados na esquadra, e como os levaram a assinar os autos de declarações sem que os pudessem ler previamente.

Um agente a quem está confiada a utilização da ‘shotgun’ também negou as acusações, por durante a tarde ter frequentado um ginásio, antes de entrar ao serviço, e recusou que os cartuxos presentes nos autos, que teriam ferido uma moradora na Cova da Moura, seja dos usados por aquela equipa policial.

Outros arguidos alegaram que não agrediram os jovens porque não tinham consigo os bastões na altura da tentativa de invasão da esquadra.

Uma agente da PSP, que antes fez serviço nas equipas de intervenção, explicou que não saiu da secretaria após o almoço, onde continuou a tratar do expediente, com um rádio a tocar música, sem ouvir quaisquer gritos ou insultos do local onde os detidos se encontravam.

A juíza presidente do coletivo ainda questionou se não teve “curiosidade” para saber do que se passava, uma vez que aquele “não era um dia normal”, com uma alegada tentativa de invasão de esquadra, travada com o disparo de uma caçadeira ‘shotgun’ com balas de borracha, mas a arguida manteve que não deixou a secretaria.

Na acusação, o MP considera que os agentes agiram com ódio racial, de forma desumana, cruel e tiveram prazer em causar sofrimento.

O processo, inicialmente, tinha 18 arguidos, mas a juíza de instrução criminal decidiu não levar a julgamento uma subcomissária – que requereu a abertura de instrução –, por não se encontrar na esquadra à data dos factos.

O julgamento vai prosseguir com a audição de testemunhas, incluindo os jovens ofendidos que se constituíram como assistentes no processo.

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