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PJ “preparada para responder” a pedidos de Angola no caso Luanda Leaks

O diretor nacional da Polícia Judiciária garantiu hoje que está “preparada para responder a qualquer pedido” de investigação que seja feito por Angola através de canais adequados, nomeadamente o Ministério Público português e as autoridades judiciárias.

Confrontado pelos jornalistas à margem de uma conferência na sede da Polícia Judiciária (PJ), em Lisboa, sobre a possibilidade de o procurador-geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, vir a solicitar a intervenção da PJ na investigação relacionada com o caso “Luanda Leks”, envolvendo a empresária angolana Isabel dos Santos, Luís Neves referiu que “o que vier a ser solicitado por via dos canais adequados” em Portugal terá uma “resposta pronta”.

O diretor nacional da PJ salientou que “nessa matéria, como noutras, a PJ trabalha na dependência do Ministério Público (português) e das autoridades judiciárias”, pelo que o que vier a ser pedido por essas vias à PJ, esta polícia “estará preparada para responder como sempre com todo o afinco e rigor, porque se trata de uma questão candente”, prometendo nessa eventualidade “agilizar essa cooperação”.

As palavras do diretor nacional da PJ foram ditas no mesmo dia em que se aguarda um encontro entre o PGR angolano, Hélder Pitta Grós, com a homóloga portuguesa, Lucília Gago, para pedir ajuda às autoridades portuguesa nas investigações em curso em Angola sobre o desvio de dinheiros públicos por parte da filha do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

Luís Neves lembrou que num período relativamente recente a PJ “já interagiu” com a sua homóloga angolana em termos de polícia de investigação criminal, assim como com o MP de Angola, no âmbito da formação e troca de conhecimentos na área da criminalidade financeira e recuperação de ativos.

Recordou ainda que Portugal, através do Ministério da Justiça, tem um protocolo de colaboração no domínio da investigação criminal, o qual foi assinado em dezembro de 2018 pela ministra da Justiça, Francisca Van Dunem.

“Estamos preparados para qualquer pedido que venha a ser materializado através do MP e da PGR” de Portugal, reiterou o diretor nacional da PJ, escusando-se, porém, a revelar se já foi aberto algum inquérito ou investigação em Portugal relacionado com a empresária Isabel dos Santos, que já é arguida em Angola e que é principal acionista de algumas empresas portuguesas.

O PGR angolano, Hélder Pitta Grós, já anunciou que a filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos foi constituída arguida por alegada má gestão e desvio de fundos na petrolífera Sonangol.

Isabel dos Santos foi visada pelo Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que revelou, no domingo, mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de “Luanda Leaks”, que detalham esquemas financeiros usados por ela e pelo marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.

Entretanto, em Lisboa, Luís Neves, afirmou hoje que os elementos recolhidos pela PJ sobre a morte do diretor do private banking do EuroBic, arguido no caso Luanda Leaks, “apontam para que não haja intervenção de terceiros”.

Questionado pelos jornalistas se a PJ tinha alguma outra linha de investigação, que não a de suicídio, Luís Neves respondeu que os dados de que a PJ dispõe, não só relativos à noite passada – quando o gestor do EuroBic foi encontrado morto -, como também de outra ocorrência anterior, apontam para que “não haja intervenção de terceiros” nesta morte.

Luís Neves falava após a assinatura de um protocolo com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), o Instituto Politécnico de Beja e o Centro de Formação Profissional da Indústria Eletrónica, Energia, Telecomunicaçoes e Tecnologias da Informação para formalizar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na prevenção e combate aos abusos sexuais de crianças na internet.

O diretor do private banking do EuroBic e gestor da conta da Sonangol, Nuno Ribeiro da Cunha, foi encontrado morto na quarta-feira à noite na casa onde residia no Restelo, em Lisboa.

A PSP acrescentou que Nuno Ribeiro da Cunha terá alegadamente “cometido suicídio na garagem, pelo método de enforcamento, confirmando-se o óbito após manobras de reanimação por parte dos meios de socorro”, sublinhando que o homem já teria um “historial de tentativa de suicídio” neste mês.

No passado dia 07 de janeiro, a GNR foi alertada para uma alegada tentativa de suicídio, no interior de uma habitação, em Vila Nova de Milfontes, onde foi encontrado um homem ferido com gravidade.

Por haver suspeita de tentativa de homicídio, a GNR contactou a PJ de Portimão, que esteve no local e está a investigar o caso.Hoje o Ministério Público confirmou à Lusa que o homem era Nuno Ribeiro da Cunha.

Nuno Ribeiro da Cunha foi constituído arguido em Angola no âmbito do processo Luanda Leaks, juntamente com a empresária e filha do ex-Presidente angolano Isabel dos Santos, Sarju Raikundalia, ex-administrador financeiro da Sonangol, Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos e presidente do Conselho de Administração do BFA, Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da NOS.

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