Quais os limites da linguagem num ensaio visual? Para o diretor do Instituto de Ciências Sociais (ICS), trabalhos com “linguagem ofensiva” não têm cabimento na revista Análise Social.
Quem discorda deste argumento é Ricardo Campos, o autor do polémico ensaio visual que levou o ICS a suspender a publicação.
“A mim parece-me um ato de censura”, afirmou Ricardo Campos, numa entrevista à TVI24 onde declarou a “surpresa e choque” com as explicações fornecidas pelo diretor da publicação, João de Pina Cabral, através de email.
Em causa estão as imagens de grafitos em Lisboa onde constam palavras de ordem contra o Governo, a banca e alguns empresários.
Quando a 212.ª edição da Análise Social estava a ser impressa, José Luís Cardoso mandou suspender os trabalhos porque o ensaio visual “A luta voltou ao muro” inclui “linguagem ofensiva”, segundo citou o autor.
De acordo com o sociólogo Ricardo Campos, João de Pina Cabral terá ainda justificado a suspensão da revista com um trabalho considerado de “mau gosto e uma ofensa a instituições e pessoas que não podia tolerar”.
O autor do ensaio discordou do alegado “mau gosto” na seleção das imagens: “Aquilo não é uma revista de decoração, é uma revista científica. Não me parece que o objeto de estudo em si sejam menos dignos dos cientistas sociais”.
O autor insistiu ter sido vítima de censura, mesmo quando “passam 40 anos do 25 de Abril”. “Deve haver liberdade de autonomia para as pessoas em todas as matérias”, sublinhou.
Com “mais de dez anos” de trabalho na área, o sociólogo destacou a importância do estudo do “uso do mural e da rua como espaço de intervenção e manifestação política”.
“Não é um artigo, é um fotoensaio, que tem um texto de enquadramento e surge num contexto de investigação”, argumentou ainda o autor, para quem a suspensão da revista “é uma falta de respeito perante um colega da academia e não parece digno de uma revista como a Análise Social”.
“Não são apresentados critérios científicos e académicos para a suspensão deste trabalho”, fundamentou.
“O que se está a passar é um sintoma de outros sintomas. Aquilo que melindrou foi o facto de algumas palavras de ordem se referirem ao poder político”, concluiu Ricardo Campos, para quem este caso é “claramente é um ato de censura”.
“Não sei se pode ser ofensivo”, insistiu ainda: “São imagens que tratam uma manifestação política singular que tem a ver com situações que ocorrem no nosso passado mais recente. Fico chocado que um Instituto de Ciências Sociais de renome considere que estes tipos de objetos sejam considerados atentatórios do bom nome das pessoas” visadas nos grafitos.
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