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“Os tempos políticos e o tempo da natureza lamentavelmente se contrapõem” – Maria Fernanda Espinosa

A presidente da Assembleia-Geral da ONU lamenta que “os tempos políticos e o tempo da natureza” não estejam em sintonia, alertando que a comunidade internacional está “a ficar sem tempo” para responder e para lutar contra as alterações climáticas.

“O fator tempo na luta contra as alterações climáticas é decisivo. Porque estamos a ficar sem tempo para responder. Lamentavelmente, acho que os tempos políticos, o tempo de agir, e o tempo da natureza às vezes se contrapõem. Diria que há uma falta de sintonia entre esses tempos”, afirma Maria Fernanda Espinosa, numa entrevista à agência Lusa, por ocasião da sua visita a Portugal, que terminou no domingo.

E reforça: “O que temos de fazer é sintonizar o tempo político e o tempo de agir com o tempo da natureza. (…) Já não temos tempo para adotar ações drásticas para construir economias com um baixo nível de emissões de carbono”.

Para a representante, a cimeira que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, organizará a 23 de setembro em Nova Iorque para reforçar a ação climática a nível mundial, a fim de alcançar o objetivo do Acordo de Paris (nomeadamente os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais), vai ser um momento crucial para essa sintonia.

“A cimeira (…) vai ser um momento político que irá colocar à prova o sistema multilateral e que nos irá dizer se realmente podemos adotar ações drásticas, aumentar a nossa ambição e colocar os nossos compromissos em cima da mesa”, defende.

Com água pelos joelhos, o secretário-geral da Nações Unidas, o português António Guterres, surgiu recentemente na capa da revista norte-americana Time, numa edição dedicada às alterações climáticas, a alertar que salvar o planeta “é a batalha das nossas vidas”.

A fotografia da capa foi captada na costa de Tuvalu (na Polinésia), uma das zonas mais vulneráveis do planeta, devido ao aumento do nível das águas do mar.

“Temos de aumentar a nossa ambição na redução de emissões (…). É absolutamente prescindível que as grandes economias, que são responsáveis pelas maiores emissões, tomem ações drásticas, drásticas na forma de produzir, na forma de consumir, uma mudança profunda de padrões de produção e de consumo”, diz Maria Fernanda Espinosa, destacando que a comunidade internacional tem ao seu dispor importantes aliados, como o conhecimento científico e as novas tecnologias, para atingir este desígnio global.

“Mas temos uma dificuldade em agir com a rapidez que é necessária”, lamenta.

Perante a pergunta se a ação global contra as alterações climáticas ainda é possível quando existem líderes mundiais que negam o impacto destas, a líder da Assembleia-Geral da ONU admite que existem alguns que têm dificuldade em reconhecer que é um fenómeno global, “que há responsabilidades comuns, mas diferenciadas para enfrentá-lo”, preferindo, porém, focar atenções em outros intervenientes.

“É importante ver o que estão a fazer os governos locais (regionais), nas cidades, nos estados individualmente, assumindo o Acordo de Paris como uma responsabilidade que têm de cumprir. Às vezes um governo central decide não o fazer, mas os governos locais têm um papel e uma função muito importante também”, conclui.

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