Mundo

ONG culpam pesticidas por problemas no campo e na mesa dos brasileiros

Organizações não Governamentais como a Human Rights Watch (HRW) e o Greenpeace têm realizado investigações no Brasil para alertar que os pesticidas consumidos no país têm trazido sérios riscos à população.

O Brasil é reconhecido com uma das maiores potências agrícolas do mundo e consome cerca de 20 por cento da produção dos pesticidas vendidos no planeta anualmente.

Um levantamento em sete comunidades do Brasil, divulgado no último dia 20 pela HRW, mostrou que os moradores de áreas rurais estão a ser envenenados no Brasil por pesticidas espalhados em plantações perto das suas casas, escolas e locais de trabalho.

O relatório, denominado “Você não quer mais respirar veneno”, diz que os casos de exposição de pesticidas no Brasil têm crescido principalmente pela aplicação de pesticidas fora do alvo ou quando este produto evapora e atinge as áreas adjacentes nos dias após a pulverização.

“Pesticidas pulverizados em grandes plantações tem envenenado crianças nas suas salas de aula e aldeões nos seus quintais por todo o Brasil rural”, frisou Richard Pearshouse, autor do estudo e um dos responsáveis do setor de meio ambiente e direitos humanos da HRW.

Além do desconforto sentido pelos moradores ao ter contacto com os pesticidas, o estudo lembrou que a exposição crónica aos pesticidas, inclusive com baixas doses, está associada à infertilidade, impactos negativos no desenvolvimento fetal, cancro e outros efeitos negativos à saúde.

Em outubro do ano passado uma outra pesquisa divulgada pelo Greenpeace, que usou amostras colhidas nas cidades de São Paulo e Brasília, indicou que 36 por cento dos 12 alimentos mais consumidos no Brasil possuem pesticidas acima do limite.

O levantamento, denominado “Segura este abacaxi! – os agrotóxicos que vão parar na sua mesa”, verificou a presença de pesticidas não permitidos para a produção dos alimentos e também em quantidade ou acima do limite máximo permitido pela lei brasileira.

Segundo a pesquisa, 60 por cento das amostras testadas continham resíduos de pesticidas e diversos alimentos testados apresentaram resíduos de mais de um tipo de pesticida.

Na época, a organização internacional disse eu fez o levantamento como forma de expor e questionar o modelo agrícola brasileiro.

“O uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGM), a expansão da agropecuária sobre as florestas nativas, o uso intensivo de agrotóxicos e os impactos socioambientais e climáticos advindos do nosso sistema produtivo têm comprometido o futuro da nossa alimentação e da resiliência do planeta”, salientou o relatório.

“Para além da saúde humana, o uso de agrotóxicos tem graves consequências para o meio ambiente. Os pesticidas impactam o solo, a água, a flora e a fauna ao redor das plantações, e comummente atingem áreas muito além de onde foram aplicados”, completou.

O debate sobre o uso de pesticidas no país tem mobilizado ONG e se intensificou na sociedade brasileira nos últimos meses porque o Congresso do país está a debater um projeto de lei que pode flexibilizar o processo de registo destes produtos.

Uma comissão parlamentar especial aprovou em junho passado um projeto que reduz substancialmente o papel de fiscalização dos Ministérios da Saúde, Meio Ambiente, e de as agências com experiência em detetar os impactos causados pelo uso de pesticidas, propondo também a substituição do termo legal pesticidas por produtos fitossanitários.

Chamado oficialmente Projeto de Lei 6299/2002 e apelidado por ambientalistas e defensores da saúde pública de “Projeto de lei do Veneno”, as novas normas ainda precisam passar por votações nas duas casas d o Congresso brasileiro (Senado e Câmara dos Deputados) e pela sanção do Presidente da República para entrar em vigor.

Em destaque

Subir