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OIT diz que são precisos 209 anos para mulher deixar de ser a principal cuidadora familiar

A Organização Internacional do Trabalho considera que as desigualdades entre homens e mulheres no trabalho devem-se sobretudo à responsabilização das mulheres pelos cuidados familiares e domésticos e estimou que sejam necessários 209 anos para inverter a situação.

De acordo com um relatório que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresenta na sexta-feira, em Genebra, 21,7 por cento das mulheres dedicam-se a tempo inteiro ao trabalho doméstico e a cuidar da família, sem qualquer remuneração, enquanto apenas 1,5 por cento dos homens estão nesta situação.

Ao mesmo tempo, as mulheres que estão empregadas também dedicam, em média, 4,25 horas por dia ao trabalho doméstico e aos cuidados familiares, enquanto que os homens gastam 1,23 por dia no mesmo tipo de tarefas.

A OIT celebra na sexta-feira o Dia Internacional da Mulher com uma sessão em que será apresentado um novo relatório, que alerta para a persistência de desigualdades entre homens e mulheres no trabalho e avança com propostas de soluções.

Segundo o documento, as assimetrias de género no trabalho não tiveram alterações significativas nos últimos vinte anos, pois os progressos registados foram lentos.

O relatório mostra que não são as habilitações escolares que determinam as mais baixas taxas de participação no emprego nem os salários mais baixos, mas sim o tempo dedicado aos cuidados familiares e ao trabalho doméstico.

A maternidade continua a constituir uma penalização para as mulheres trabalhadoras, segundo o relatório, que refere que entre 2005 e 2015 a penalização no trabalho devido à maternidade e ao usufruto dos direitos a ela inerentes aumentou 38,4 por cento.

De acordo com Manuela Tomei, diretora do Departamento de Condições de Trabalho e Igualdade da OIT, existem vários fatores a bloquear a igualdade no trabalho e um deles é a prestação de cuidados à família e as responsabilidades domésticas em geral.

“Nos últimos 20 anos, o tempo que as mulheres despenderam com a prestação de cuidados não remunerados e com o trabalho doméstico quase não diminuiu, enquanto que, no caso dos homens, aumentou apenas oito minutos por dia. A este ritmo serão necessários mais de 200 anos para alcançar a igualdade no tempo gasto no trabalho não remunerado”.

Segundo o relatório da OIT, 69,8 por cento das mulheres preferia ter um trabalho remunerado e 66,5 por cento dos homens também preferia que elas tivessem um trabalho remunerado.

Atualmente, só 45,3 por cento das mulheres estão empregadas enquanto nos homens essa percentagem é de 71,4 por cento.

No mundo laboral só 27,1 por cento dos cargos diretivos e de liderança são ocupados por mulheres, ao mesmo tempo que existe uma diferença salarial de 20 por cento entre os dois géneros.

As mulheres têm cada vez mais habilitações, mas isso não parece influenciar muito a sua situação no mercado de trabalho pois 41,5 por cento das que têm cursos universitários estão desempregadas, enquanto que apenas 17,2 por cento dos homens com essas habilitações estão na mesma situação.

O relatório defende que para alcançar a igualdade de género são necessárias mudanças nas políticas e ações em várias áreas, que se reforçam mutuamente, e aponta para medidas que podem levar a uma agenda transformadora para a igualdade entre homens e mulheres.

Segundo o documento, a mulher só terá futuro no mundo do trabalho quando se acabarem com as discriminações e estereótipos e quando o trabalho da mulher for devidamente valorizado, assim como a sua posição no mercado de trabalho.

Para acabar com as diferenças e assegurar a igualdade de género no trabalho, a OIT defende o respeito pelos direitos, nomeadamente de maternidade e parentalidade, e a igualdade de oportunidades.

A organização defende ainda a necessidade de serem criadas mais infraestruturas e assegurada maior proteção social para que a mulher seja libertada dos cuidados familiares para se dedicar ao trabalho.

Segundo a OIT, a mulher deve ser apoiada na sua transição para o mercado de trabalho, nomeadamente na adaptação às novas tecnologias e através de uma aprendizagem permanente.

A OIT defende também que sejam eliminados os obstáculos que existem, para que as mulheres possam participar no diálogo social empresarial, tanto a nível nacional como internacional.

Este relatório representa cinco anos de trabalho no âmbito da Iniciativa do Centenário da OIT ‘As mulheres e o trabalho’.

A sessão comemorativa do Dia Internacional da Mulher, que a OIT promove em Genebra, conta com a participação da atriz Yalitza Aparicio, protagonista do filme Roma, um dos nomeados para Oscar e vencedor do prémio Bafta.

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