O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deixa hoje Washington, onde se reuniu com o homólogo norte-americano, Donald Trump, numa visita oficial que, disse, “atingiu os objetivos”, com divergências expressas e uma conversa sobre Cristiano Ronaldo.
Na quarta-feira, pelas 14:07 locais (19:07 em Lisboa), Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido pelo Presidente dos Estados Unidos da América no exterior da Casa Branca, em Washington, e os dois prestaram declarações aos jornalistas na Sala Oval durante 15 minutos, antes de uma conversa a sós de cerca de 25 minutos, seguida de uma reunião bilateral alargada.
O chefe de Estado português diria depois que foi “um encontro que atingiu os objetivos pretendidos”, que significou um “reconhecimento positivo e mesmo caloroso de uma relação de 242 anos” e de “uma comunidade poderosa” luso-americana de 1,4 milhões de pessoas, bem como “de relações bilaterais importantes no domínio da defesa e no domínio da energia”.
Por sua vez, o Presidente norte-americano, Donald Trump, divulgou ao fim do dia a seguinte mensagem na rede social Twitter: “Hoje tive a grande honra de receber o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa de Portugal na Casa Branca”.
Durante as declarações conjuntas na Sala Oval, Trump intercalou o seu discurso sobre as relações com Portugal com comentários sobre questões internas, em particular a notícia da jubilação de um juiz do Supremo Tribunal, e a certa altura elogiou a forma como tem decorrido o Campeonato do Mundo de Futebol de 2018, na Rússia: “O evento tem sido fantástico”.
Isso serviu de pretexto para Marcelo Rebelo de Sousa falar de Cristiano Ronaldo, “o melhor jogador do mundo”, e Donald Trump acabou a perguntar-lhe se pensa que o “Christian” irá concorrer a Presidente da República de Portugal como seu adversário.
“Tenho de lhe dizer que Portugal não é bem os Estados Unidos, é um pouco diferente”, retorquiu o Presidente português.
Marcelo Rebelo de Sousa, por outro lado, mencionou a Trump a “visita de cortesia” que fez ao Presidente da Rússia, em Moscovo, na semana passada: “Ele pediu-me que lhe enviasse cumprimentos”.
Logo nesta parte aberta da conversa, foram percetíveis divergências no que respeita à política comercial e à política de imigração, pelos gestos e expressões do chefe de Estado português, que assumiu ter tido algum cuidado com a sua linguagem corporal: “Até talvez tenha sido um pouco excessivo”.
O chefe de Estado português abanou ligeiramente a cabeça, por exemplo, ao ouvir o seu homólogo considerar que as tarifas aduaneiras dos Estados Unidos sobre importações de aço e alumínio do México, do Canadá e da União Europeia “têm sido incríveis” para a economia norte-americana.
Com a comunicação social prestes a sair da sala, Marcelo Rebelo de Sousa virou-se para Trump e disse-lhe: “Vai encontrar-se com o presidente [da Comissão Europeia] Juncker, isso são boas notícias. São boas notícias”.
O Presidente da República destacaria aos jornalistas portugueses essa chamada de atenção da sua parte como uma demonstração de que Portugal está “solidário com a União Europeia em que se integra e cujas posições partilha – que não são, em muitos pontos, é público e notório, as posições defendidas pelos Estados Unidos da América”.
Marcelo Rebelo de Sousa também pareceu manifestar discordância quando o Presidente norte-americano defendeu a necessidade de “fronteiras fortes”, e mais tarde confirmou que essa foi uma de muitas “posições divergentes” expressas no encontro.
Segundo o Presidente português, houve das duas partes “disponibilidade não apenas para falar, mas para ouvir”, e as convergências e divergências foram exprimidas com “o mesmo calor”.
“Não houve nada, mas verdadeiramente nada de relevante naquilo que era convergente ou divergente que não tivesse sido tratado”, realçou.
Sobre a imigração, adiantou: “Sempre que eu tenho oportunidade de explicar por que é que Portugal acolhe imigrantes, explico. E aproveito para fazer pedagogia, para explicar como é a realidade portuguesa”.
A história das relações bilaterais foi lembrada por Marcelo Rebelo de Sousa na sua intervenção inicial, em que salientou que Portugal foi “o primeiro país neutral a reconhecer a independência dos Estados Unidos da América, apesar de ter a Inglaterra como o mais antigo aliado”.
O presente que ofereceu “simbolicamente” a Trump foi precisamente “um fac-simile do decreto real de D. Maria I a reconhecer a independência dos Estados Unidos da América”, contou o chefe de Estado, no fim desta visita oficial, que começou na terça-feira, com um encontro com a comunidade portuguesa.
Donald Trump disse que as relações bilaterais nunca foram tão boas, referiu-se a Marcelo Rebelo de Sousa como “o altamente respeitado Presidente de Portugal” e no final da reunião bilateral alargada – em que participou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos – acompanhou-o até à porta.
Na quarta-feira, já de madrugada em Lisboa, o Presidente português terminou o seu programa oficial com uma cerimónia de “Toast to America” – brinde à América – com vinho da Madeira, com o qual os “pais fundadores” dos Estados Unidos celebraram a assinatura da Declaração da Independência.
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