Cláudia Lopes, a jornalista conhecida por apresentar o ‘MaisFutebol’ na TVI24, lamentou a facilidade com que se propaga o ódio nas redes sociais, em especial quando envolve mulheres.
O rosto da TVI foi uma das mais recentes vítimas, depois de ter dito, durante uma entrevista, que a pessoa mais importante da sua vida era o marido, não o filho.
As críticas não tardaram, muitas delas num tom inadmissível em sociedade.
“Escreveram que eu não merecia ter tido filhos”, exemplificou.
Ao passar pelo ‘Dia de Cristina’, a propósito do livro escrito pela apresentadora e diretora da TVI Cristina Ferreira, Cláudia Lopes abordou o ‘bullying’ nas redes sociais.
“O amor dos filhos não tem comparação. (…) Tu dás a vida por um filho sem pestanejar, tu sofres por um filho o que não sofres por mais ninguém. Mas isso é um tipo de amor, se te perguntam qual é a pessoa mais importante na tua vida, até para o criar nesse amor, a pessoa mais importante na minha vida é o meu marido. São duas coisas diferentes”, argumentou.
Uma reflexão que a jornalista considera de senso comum, mas que foi aproveitada pelo “ódio à flor da pele para destilar nas redes sociais”.
“Para eu estar aqui, quem é que foi buscar o meu filho à escola? O meu marido. Para eu fazer a carreira que fiz, em que o desporto é sempre à noite e aos fins de semana, que pessoa esteve incondicionalmente ao meu lado? O meu marido”, acrescentou.
No entanto, a entrevista anterior lançou uma polémica em que houve pessoas a torcer “pelo meu divórcio”.
“Muita gente disse-me ‘Quando ele te der um pontapé no rabo eu quero ver’”, contou.
Mas o pior ainda estava para vir.
“Houve uma pessoa que escreveu que eu não merecia ter tido filhos. Eu sei o que passei para ele nascer, tive um parto de uma criança com 30 semanas, ouvi a médica dizer ‘um nado-morto’. Eu sei que não podemos valorizar, mas alguém destilou aquele ódio. Nem é só por mim, a minha mãe viu aquilo. Eu tenho sobrinhos, eu tenho família, aquilo vai ficar impresso numa revista que alguém vai ler daqui a seis meses no cabeleireiro”, afirmou a jornalista.
“Isto é de uma maldade, é de uma crueldade… Não quero ser a pessoa mais consensual do mundo, mas se eu não gosto de alguém não sigo [nas redes sociais], nem vou lá achincalhar. As pessoas não nos conhecem, não se podem arrogar no direito de nos julgar”, comentou Cláudia Lopes.
Apesar de todos esses ataques, a jornalista não vai a mudar a postura.
“Eu digo o que eu quiser, ninguém limita a minha liberdade”, garantiu.
A apresentadora do ‘MaisFutebol’ abordou ainda o ‘papel’ da mulher no desporto, um mundo tradicionalmente atribuído aos homens.
“O sucesso das mulheres continua a fazer muitas cócegas”, declarou.
Cláudia Lopes explicou que, como mulher, tinha de ser uma jornalista “dez vezes melhor” para ‘falar de futebol’.
“O que me custa é que estamos a entrar no ano 2021 e continuamos a discutir género”, salientou.
Um comentário que surgiu dias depois do conhecido treinador Jorge Jesus ter sido alvo de acusações de machismo, a propósito da resposta dada a uma jornalista.
“É natural que você não sabe o que é muita qualidade sobre futebol”, afirmou o técnico do Benfica após a questão da jornalista, que disse ter ficado a sensação de que a “qualidade do Benfica ainda não tinha estado lá toda”, na entrevista rápida após o jogo com o Marítimo.
O caso motivou mesmo uma reação da Associação dos Jornalistas de Desporto, que considerou a resposta “absolutamente inadequada e indigna”.
Nas redes sociais, Jorge Jesus foi acusado de machismo, uma “carapuça” que o treinador se recusa a enfiar.
“Muitas vezes, o caminho das mulheres é sinuoso. Por exemplo, só nos anos 2000 é que no Chile se legalizou o divórcio”, salientou Cláudia Lopes.
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