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“O senhor dos afetos pensou que eu era lixo”. O testemunho de um sobrevivente do fogo de Pedrógão

Carlos Guerreiro é um dos sobreviventes dos incêndios que, em 2017, devastaram Pedrógão Grande. O homem teve 85 por cento do corpo queimado e ainda hoje vive com sequelas do acidente. Num testemunho impactante, lamenta a forma como se sente abandonado pelo Estado português.

“Temos que desmistificar as mentiras. Portugal merece a verdade”, começou por contar em conversa no programa Júlia Pinheiro, onde relatou os momentos de aflição que passou naquele dia 17 de junho de 2017.

“Minutos antes de ficar queimados estivemos ao pé dos bombeiros em segurança”, lembra Carlos Guerreiro, detalhando que quando deu conta de que estava cercado pelas chamas tentou salvar-se da melhor forma possível.

“Senti o queimado, senti que estava a derreter”

“Consegui correr sensivelmente 400 metros debaixo de fogo. Usava calções, senti o queimado, senti que estava a derreter, senti que estava a perder as forças mas a crença e a vontade de viver…”, explicou, deixando Júlia Pinheiro emocionada.

“Senti o corpo a desfazer-se e a desaparecer”, acrescentou, perante a admiração da apresentadora, explicando que teve de ser transferido para uma unidade hospitalar em Valência, Espanha, dado que, em Portugal, “não havia pele suficiente” para tratar as queimaduras de tantas pessoas que ficaram feridas naqueles fogos.

“Só quando há fogos e cheias é que a gente se lembra dos bombeiros”

Carlos Guerreiro esteve oito meses internado em Espanha e aproveita o seu testemunho para deixar um agradecimento aos bombeiros de Portugal por tudo aquilo que fazem.

“Só quando há fogos e cheias é que a gente se lembra dos bombeiros”, lamenta Carlos Guerreiro, velando críticas ao Presidente da República.

“O homem dos afetos, pelo que consta, ligou-me da Grécia enquanto estava na unidade de continuados em Pedrógão Grande e perguntar a idade, se estava tudo bem, e disse que me ia visitar mas pensou que eu era lixo”, desabafou Carlos Guerreiro, explicando que chegou a cruzar-se com Marcelo Rebelo de Sousa em visitas que o chefe de Estado fez a zonas afetadas pelos incêndios anos mais tarde.

“O senhor afetos mal parecia ter-me ignorado e para não parecer mal perante a comitiva, e a sua assessora, deslocou-se para me cumprimentar. Disse-lhe algo ao ouvido que ele deve ter insónias. Já fui ao Palácio de Belém e nunca teve a amabilidade de me receber e de me ouvir”, queixa-se Carlos Guerreiro.

“O homem que vai a todo lado e corre o mundo todo nem um olá. É revoltante”, sublinhou este sobrevivente dos incêndios de Pedrógão Grande.

Carlos Guerreiro tem um filho menor, nascido quando estava internado em Espanha por causa dos fogos, e lamenta o valor da pensão que recebe atualmente.

“De uma reforma de invalidez de 360 euros, tenho que pagar 150 de pensão de alimentos. É Portugal”, criticou, aproveitando a oportunidade para também deixar críticas ao governo de António Costa a quem apelidou de o “senhor otimista”.

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