Na hora da demissão, após a derrota nas primárias, António José Seguro enviou um recado ao “doutor António Costa”, escondido no discurso onde se mostra resignado. “Em Democracia, ganha eleições quem tem mais votos”, reconheceu o agora demissionário secretário-geral do PS. Palavras que não foram escolhidas em vão.

As palavras de António José Seguro foram muito elogiadas, pelo modo elevado como se despede da liderança do PS e como aceitou os resultados das eleições primárias desde domingo, ganhas de forma arrebatadora por António Costa.

Mas há recados velados de Seguro a Costa. E não se circunscrevem ao “doutor António Costa”, outrora camarada e amigo.

“Em Democracia, ganha eleições quem tem mais votos”, afirmou António José Seguro. E não estaria a referir-se aos números do ato eleitoral de ontem, mas certamente aos triunfos eleitorais que sempre reclamou, nas eleições Europeias e Autárquicas, em que o PS foi o partido mais votado.

António Costa nunca reconheceu essas vitórias, por considerar que o PS não conseguia afirmar-se como alternativa ao Governo. Seguro discordou desta posição do homem que sempre lhe fez sombra.

Este foi o ‘pormenor’ que dividiu os dois socialistas, pormenor que levou a uma cisão insanável, durante uma campanha pouco esclarecedora, onde os ataques pessoas se sobrepuseram ao debate de ideias.

Ontem, António Costa não dirigiu uma palavra a Seguro. E foi criticado por isso. Seguro optou por um discurso coerente, mas que, em coerência, não pode ser aplicado ao futuro secretário-geral do PS.

É que Costa fez valer os seus argumentos. Não basta vencer as eleições. É preciso dar um sinal ao eleitorado, com números que reforcem as expectativas. E os números de ontem reforçam-nas, em favor de Costa.

E por ironia do destino, o PS foi o único partido a derrotar António José Seguro, nas urnas…