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O inacreditável destino dos automóveis que nunca são vendidos

Eu sei, o título é pouco comum, não é? Pois é, têm toda a razão. Mas acreditem que vale a pena dar uma oportunidade a esta crónica. Sigam o meu raciocínio: o que acontece quando o novo modelo de uma qualquer marca de automóveis deixa de se vender? Para onde vai esse carro? A verdade é que esta é uma questão que a esmagadora maioria de nós (eu incluído) nunca coloca. Partimos do princípio que os carros são vendidos ou alugados. Mas se pensarmos bem, rapidamente percebemos que isso é impossível dada a diferença entre a quantidade de carros que são fabricados diariamente e a quantidade de carros que é efectivamente vendida/alugada. Mas sendo assim, o que é que acontece a essas viaturas?

Perante este “problema” arrisco dizer que as primeiras ideias que nos vêm à cabeça são:

a)    
os carros são vendidos ao ferro-velho ou

b)   
os carros são destruídos.

Contudo ambas as hipóteses estão erradas. A resposta certa é desprovida de espectacularidade (pelo menos assim parece à primeira vista): os carros são estacionados em gigantescos parques de estacionamento.

E esta é a parte em que vos solicito que abram uma segunda janela, nos Google Maps. Sim, porque por maior que seja o meu dom para a escrita e por mais visuais que sejam as minhas palavras nada suplanta o poder da imagem. E é também uma forma de perceberem que falo verdade nos parágrafos seguintes.

Estes parques de estacionamento a que me referia existem um pouco por todo o mundo e mais não são do que espaços de dimensões absurdas onde os carros que não foram vendidos são depositados. “Mas as viaturas são lá depositadas porquê?” Porque não tendo sido vendidas é necessário dar-lhes um destino dado que existem novas viaturas para ocupar os lugares nos stands de automóveis. “E é suposto lá permanecerem até quando?” Pois, isso ninguém sabe ao certo, mas no máximo será até o estacionamento em causa ficar cheio (algo que é bem mais difícil do que parece pelas dimensões dos espaços).

É então tempo de fazer uso da tal segunda janela que vos solicitei. Pesquisem por “Rats Bay, Sheerness”. Agora aumentem o zoom (ou reduzam, consoante os casos). Pesquisem junto à costa, perto do local para onde foram direccionados por um parque de estacionamento gigantesco. Já o encontraram? Isso é exactamente o que estão a pensar: milhares, e milhares, e milhares de carros que apenas ali estão, parados, sem destino.

Mas querem mais exemplos, certo? Então cá vai: desta vez pesquisem por “Dundalk, Port of Baltimore, Maryland”. Agora viajamos para os Estados Unidos da América, e mais uma vez vos peço que aumentem/diminuam o zoom do vosso mapa. Pesquisem em volta. É ou não é de fazer cair qualquer queixo? Vocês calculam os milhares de automóveis que ali estão? Pois, nem eu.

Outros bons exemplos são o Porto de Valência, em Espanha. Ou então o “Royal Portbury Docks, Avonmouth”, em Inglaterra (e se até agora não ficaram impressionados com os exemplos anteriores esperem só por este). Ou ainda “Ironpits Wood, Corby District, Northamptonshire”. Ou “Civitavecchia, Itália”. Ou ainda…ok, acho que já perceberam a ideia.

A verdade é que tudo isto é um ciclo vicioso. Os carros são fabricados em grandes quantidades (porque toda a gente sabe que “mais é melhor”). Nós, os consumidores, compramos os carrinhos novos uma vez que queremos ter sempre o modelo mais avançado. E como nós compramos os carrinhos novos a fábrica tem de criar mais, para saciar a nossa fome (e a deles também, obviamente). E o ciclo repete-se vezes sem fim.

Mas a actual crise veio romper o ciclo. De um momento para o outro deixámos de poder comprar carros novos. E não fomos só “nós” portugueses, foi todo o mundo. Salvo raras excepções de países com um fulgor invejável a verdade é que a esmagadora maioria dos países atravessa ainda hoje uma situação periclitante e nada aconselhável a investimentos avultados em novos automóveis. Como tal se os carros não são comprados as marcas começam a ter prejuízo.

E pouco tempo será necessário até que os ditos carros que não são vendidos passem a fazer parte de um parque de estacionamento em tudo semelhante aos apresentados em cima. Eles estão espalhados por todo o mundo e é obviamente desconhecida a real dimensão deste “problema mundial”.

Como devem imaginar não tenho para vos apresentar uma solução milagrosa. O que eu tenho é a certeza de que esta situação tem de se alterar, dado que isto ultrapassa todos os limites do aceitável. Se por acaso conhecerem outros parques de estacionamentos deste género espalhados pelo país, ou pelo mundo, partilhem-no comigo e com os restantes leitores nos comentários deste artigo.

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