Noah desaparecido: “Não faz sentido que esta mãe continue a dormir com o filho a vestir-se”
O caso Noah, o menino desaparecido em Proença-a-Velha, suscita surpresa no antigo inspetor da Polícia Judiciária, Moita Flores, que encontra informação incongruente. “É falso que esta criança tenha autonomia”, diz Moita Flores, alegando que há dados nesta história que não batem certo.
As buscas para encontrar Noah, menino desaparecido deste ontem em Proença-a-Velha prosseguem, sem sucesso.
O caso tem início nesta quarta-feira, às 8h00, quando a mãe acorda e dá pela ausência do filho de 2 anos: a criança teria o hábito de sair de casa e ir ao encontro do pai, agricultor.
É a mãe que dá o alerta, às 8h30, sendo que meia hora mais tarde as autoridades dão início às buscas, no local de residência de Noah, com um perímetro alargado. Quem foi a última pessoa a ver a criança? Esta é a pergunta essencial, para a investigação.
Francisco Moita Flores, investigador e antigo inspetor da Polícia Judiciária, encontra diversas incongruências nesta versão dos factos. “Não dou importância a essa história da recompensa. Trata-se de um ato de desespero e pode ser interpretado desse modo. Tanto que essa recompensa foi retirada”, começa por dizer, na CMTV,.
Noah desaparecido. Tese de rapto pouco provável
A tese de rapto pode ter validade. O criminologista não a descarta, mas parece desvalorizá-la, porque encontra outros sinais. “Pode ter acontecido, não é uma hipótese a excluir”, diz Moita Flores. No entanto, defende o antigo inspetor da Polícia Judiciária, a família deve ser interrogada.
“O filho saiu. E eu tenho perguntas que não consigo ver respondidas”, argumenta. E as perguntas que Francisco Moita Flores queria ver respondidas prendem-se com princípios básicos, da antropologia.
“Se alguém fizer um barulho na porta, no sítio onde dormimos, a primeira pessoa que acorda é o homem. Se um bebé fizer um barulho num quarto, a primeira pessoa que acorda é a mãe. Isto está estudado exaustivamente. E tem que ver com, dentro da igualdade de género, as nossas diferenças comportamentais”, explica.
“Não faz sentido que esta mãe consiga continuar a dormir com o filho a vestir-se e a arranjar-se. O sinal do miúdo é o sinal de alerta da mãe. Pode não ser o do pai, que está muito mais dirigido para a proteção do núcleo familiar”, prossegue, em declarações na CMTV.
Mas Moita Flores vai mais longe. E vê a sua perplexidade crescer, à medida que vão surgindo dados na investigação.
Hábitos de Noah que não fazem sentido
“Pior é a informação que recebemos. Ora, o casal vivia ali há três meses, apenas. E não é possível nós construímos um discurso que está a ser construído – e quanto a mim erroneamente, com um pressuposto falso – de que esta criança tem hábitos, hábitos fora de casa. Isto não é possível. E é impossível do ponto de vista até da criação e da educação de uma criança, por mais evoluída que ela esteja para a idade. Estamos a falar de uma criança com 2 anos e meio”, alega.
“Uma criança com 2 anos e meio terá alguma autonomia, mas não tem responsabilidade, não tem sentido de risco e, mais do que isso, não consegue organizar pensamento. Desse modo, não é por acaso que nós todos só temos memória a partir dos 4 anos da nossa existência – talvez um pouco antes, mas por volta dos 4 anos. E também não é por acaso que só entramos na escola aos 6 anos”, explica o criminologista.
E o que torna este caso estranho?
O desaparecimento de Noah tem inúmeros detalhes incongruentes, porque “Quer-se dar uma ideia de lógica e coerência que não tem lógica nem coerência”. “E isto porque partimos do pressuposto de que a criança tem um critério crítico. Não tem! Não tem por causa da sua idade, é um bebé ainda usa fralda”, diz.
“É bom que a polícia também despiste sinais que aparecem, como por exemplo as pegadas detetadas e a fralda encontrada. Assim, há um conjunto de coisas que é preciso determinar, para percebermos esta desorganização completa, que resulta de um pressuposto falso”, realça Moita Flores.
“É falso que esta criança tenha autonomia. E isto não é um dado da criminologia, ou da psicologia, é do viver comum. Esse é um dado do nosso senso comum. E de todos aqueles que já foram pais e tiveram crianças com 2 anos e meio. Porque por mais superdotadas que elas sejam, não há hipótese de ninguém construir um raciocínio sobre escolhas de um caminho, sobre escolhas de uma opção de procura de pai, se não tiver uma estrutura crítica interna que lhe permita a analisar o meio ambiente. Aos 2 anos e meio não tem. E sobretudo num ambiente agressivo e desconhecido”, acrescenta Moita Flores.
Daí que as autoridades devam colocar em cima da mesa a possibilidade de um crime. Noah continua desaparecido e à medida que o tempo passa diminuem as probabilidades de encontrar a criança com vida.