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“Não há razão, mesmo a do combate ao racismo, que justifique destruir a História”

O Presidente da República condenou a vandalização de estátuas e alertou para a “ignorância” e “imbecilidade” que crescem na sociedade portuguesa.

“Não sei se a sociedade portuguesa é, como um todo, racista. Agora que há setores racistas e xenófobos em Portugal, há”, começou por salientar Marcelo Rebelo de Sousa, na aula que deu hoje pela telescola.

“Não penso que vandalizar ou destruir estátuas seja uma forma inteligente de combater. Traduz-se em quê, na mudança de vida daqueles negros ou asiáticos que não têm as mesmas condições de outros que não pertencem a esta maioria? Ou de todos outros que pertencem à maioria étnica em Portugal e cujas crianças não conseguem chegar ao que têm os das classe média e média alta?”, acrescentou.

Referindo-se em concreto à vandalização da estátua do Padre António Vieira, em Lisboa, o chefe de Estado sustentou que o ato demonstrou “não só ignorância como imbecilidade”, uma vez que “o padre António Vieira é uma das grandes personalidades deste país”.

“Lutou pela independência, foi um grande diplomata, um homem progressista para aquela altura, perseguido pelos colonos portugueses no Brasil e pela corte”, realçou.

“O que mais me preocupa é a radicalização da sociedade portuguesa”, admitiu o Presidente.

“Estamos a viver uma pandemia e, no momento em que temos uma crise económica e social, vamos juntar a isso a radicalização, gratuita, da sociedade portuguesa, que se alimenta reciprocamente, que não é tratar seriamente os problemas ou definir políticas contra as desigualdades”, complementou.

Avisando que “o radicalismo puxa radicalismo”, Marcelo sustentou que a sociedade portuguesa não ganha anda “com essa radicalização gratuita e não inteligente”.

“Não há razão nenhuma hoje, mesmo a do combate ao racismo, ou outro tipo de combates, que justifique destruir a História e os testemunhos de personalidades da nossa História”, afirmou o Presidente da República.

“Senão, começamos no Dom Afonso Henriques, pela perseguição aos muçulmanos, pela primeira dinastia e vai tudo, da torre de Belém, recuando até aos tempos do romanos e gregos”, sustentou.

No caso do racismo, Portugal tem de assumir “a História toda”, não podendo escolher entre “o que foi bom e o que foi mau”.

“Sou chefe de um Estado que tem uma história feita de vitórias e derrotas, de coisa boas à luz da época e más agora, de coisas más na altura e boas agora, por exemplo. Julgar a história à luz de hoje é um erro”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa.

“Personalidades que marcam a nossa história, têm de ser respeitadas e consideradas à luz da época em que viveram”, finalizou.

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