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Na Síria, mais de 15 milhões de pessoas precisam de ajuda imediata

Vidas perdidas, edifícios destruídos, medo e fome. É esta a realidade de milhões de sírios desde 2011, ano em que começou a crise que dura até hoje.

E em 12 anos, esta crise não parece estar mais próxima de um desfecho, constatando-se que a situação humanitária se agrava mês após mês. Em janeiro deste ano, ainda antes dos terramotos, as Nações Unidas já estimavam a existência de 15.3 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária em todo o país, um aumento de 5% em relação ao ano anterior.

Este número, que é o mais elevado desde o início desta crise, é resultado de um contexto político-militar que permanece imprevisível e, sobretudo, da deterioração da conjuntura económica do país, que coloca cada vez mais pessoas numa situação de vulnerabilidade.

Os serviços básicos foram danificados e interrompidos, a população enfrenta um novo surto de cólera e os impactos climáticos estão a deixar marcas profundas numa população já muito fragilizada por mais de uma década de crise.

Síria possui o maior número de deslocados internos do mundo

Para dar resposta a esta e outras emergências humanitárias, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está presente no país desde 1991, apoiando a população refugiada, deslocados internos, requerentes de asilo e retornados ao nível da proteção, abrigo e bens essenciais.

Atualmente, a Síria possui o maior número de deslocados internos do mundo, um total de 6.8 milhões de pessoas.

Uma situação que se viu agravada pelo último inverno. “Perante um inverno tão rigoroso, mais de 3.4 milhões de pessoas necessitaram de assistência contra o frio”, alerta Joana Brandão, Diretora Nacional da Portugal com ACNUR.

O parceiro nacional do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados conta que como resposta colocaram de imediato em marcha uma campanha de sensibilização e angariação de fundos para a assistência de inverno, que permitiu “apoiar mais de 1.8 milhões de pessoas com bens essenciais, como cobertores térmicos, sacos de cama polares e roupas de inverno; com ajuda monetária para fazer face às necessidades adicionais resultante destes meses frios; e na construção de abrigos resistentes ao clima e na reparação e adaptação de infraestruturas para enfrentar as temperaturas negativas”.

“Uma crise dentro de uma crise”: 8.8 milhões de pessoas afetadas e 100 mil famílias deslocadas devido aos terramotos

Foi durante a madrugada de dia 6 de fevereiro de 2023 que a população síria se viu perante uma nova tragédia quando a terra tremeu e deixou um rasto de destruição sem precedentes, mesmo para quem lida há 12 anos com um cenário de emergência humanitária. “Isto é uma crise dentro de uma crise”, alerta Sivanka Dhanapala, representante do ACNUR na Síria.

“Trata-se de pessoas que vivem em condições muito difíceis, em habitações muito frágeis e, claro, que foram as mais afetadas”, acrescenta.

Os mais recentes dados apontam um total de 8.8 milhões de pessoas afetadas pelos terramotos e pelo menos 100 mil famílias deslocadas nas regiões de Aleppo, Homs, Hama e Latakia.

Os sismos tiveram um forte impacto no Noroeste da Síria, uma região onde mais de 4 milhões de pessoas já estavam dependentes da ajuda humanitária, sendo a maioria delas mulheres e crianças.

“No dia em que ocorreram os primeiros terramotos, acionámos uma campanha de angariação de fundos em Portugal”, explica a Diretora Nacional da Portugal com ACNUR. “Infelizmente os números de vítimas ultrapassaram qualquer expectativa e foi essencial contar com a generosidade e a rapidez com que as pessoas doaram”, acrescenta.

O ACNUR estima que seja necessário um financiamento de mais de 48 milhões de euros para dar resposta a esta emergência climática e apoiar cerca de 385 mil pessoas que enfrentam uma situação dramática.

“Pessoas e empresas podem contribuir no nosso site para a resposta do ACNUR na Síria e também Turquia, ajudando as pessoas afetadas que ficaram sem nada e enfrentam grandes desafios nos próximos meses”, apela Joana Brandão.

Com os apoios que o ACNUR recebeu até ao momento, foi possível garantir serviços de proteção a cerca de 281 mil pessoas; distribuir mais de 38 mil kits de bens de primeira necessidade a cerca de 186 mil pessoas, que incluem cobertores térmicos, roupa de inverno, colchões, conjuntos de cozinha, lonas de plástico, bidons de água, lâmpadas solares e colchões insufláveis; e disponibilizar cerca de 4 mil tendas para abrigar mais de 19 mil pessoas.

Este organismo, bem como os seus parceiros no local, estão a apoiar ainda mais de 10.7 mil crianças com atividades lúdicas, primeiros socorros psicológicos e sessões de aconselhamento e sensibilização para a proteção da criança.

Violência de género é uma das principais preocupações em emergências humanitárias

Outra das grandes preocupações da resposta de emergência na Síria é ao nível da violência de género. Desde o início da crise há 12 anos que o ACNUR se tem vindo a deparar com inúmeros casos e testemunhos de vários tipos de violência contra as mulheres. Só durante o ano de 2022, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados deu apoio a quase 6 mil vítimas de violência de género.

O trabalho do ACNUR nesta área procura proteger e empoderar as vítimas, garantindo acesso aos serviços de apoio de qualidade, incluindo cuidados de saúde, apoio psicossocial e serviços jurídicos.

Além disso, a organização tem feito um grande esforço para sensibilizar as comunidades para o tema e promover a igualdade de género e a inclusão, a tolerância e o fim da discriminação. Foram ainda distribuídos mais de 8 mil kits de dignidade com produtos de higiene e outros bens.

Os terramotos que afetaram a Síria no mês passado trouxeram novos perigos para as mulheres e uma maior preocupação por parte das entidades que asseguram a ajuda humanitária.

A sobrelotação dos abrigos coletivos e a falta de privacidade entre famílias ou nas instalações sanitárias está a levar a um risco acrescido de violência de género, exploração e abuso sexual. Para fazer frente a esta ameaça, o ACNUR e os parceiros estão a distribuir fechaduras de portas, kits de dignidade e kits de redução de riscos e estão a instalar divisórias e outras infraestruturas que garantam a segurança das pessoas nas instalações sanitárias.

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