“Muito estudo, muita dedicação, muito empenho e com poucas horas de descanso”, é assim que Noemie Freire, a primeira mulher submarinista a receber o diploma em Portugal, caracteriza o último ano da sua vida.
Hoje, na Base Naval do Alfeite, em Almada, Noemie Freire recebeu o diploma e o submarino que irá ser cosido na lapela da farda, tornando-se na primeira mulher a integrar a esquadrilha de um submarino em Portugal.
A aproximação à profissão deu-se há dois anos, quando foi convidada para visitar, durante quatro horas, o NRP Arpão, naquela que foi uma tentativa da Marinha em incentivar mais mulheres a ingressar na carreira de submarinista.
Aos 30 anos, a jovem nascida em França revelou que foi quando visitou o submarino que “despertou a curiosidade” e inscrever-se no concurso quando este abriu foi um passo normal.
“Agora que terminei o curso, sinto que estou bastante satisfeita com o meu sucesso. Foram muitas horas a estudar, muita dedicação, muito empenho, poucas horas de descanso. Há muito orgulho, imensa satisfação pessoal e profissional”, disse aos jornalistas Noemie Freire, após a breve cerimónia e com o NRP Arpão como “pano” de fundo.
A primeiro-marinheiro explicou que a principal diferença encontrada até ao momento, entre estar a trabalhar à superfície e num submarino, é o facto de haver mais camaradagem quando se está “confinado num espaço” mais pequeno e, talvez por isso, a tripulação é “mais unida”.
Depois de ter estado embarcada no submarino durante o curso, Noemie Freire descreve que é “diferente e difícil” não se ver a luz do dia, mas também o espaço muito delimitado onde não há lugar à intimidade: “só quando estou na minha cama, fecho a cortina e tenho o meu espaço”.
A primeira submarinista portuguesa revela nunca ter sido discriminada pelos companheiros, lembrando que existe respeito, apesar de ser a única mulher entre a guarnição de 33 pessoas.
Discriminação é algo que o vice-almirante Gouveia e Melo garante, igualmente, não existir entre os pares, avançando ser “uma mais valia” ter mais militares disponíveis no universo, já que a vida nos submarinos “é difícil e nem sempre há voluntários”.
“Abrir o leque de hipóteses de seleção é muito importante. As mulheres dão um toque diferente às guarnições”, explicou o comandante naval Gouveia e Melo, lembrando a sua experiência enquanto comandante de navio misto e enquanto comandante de um navio só com tripulantes homens.
Para Gouveia e Melo, que conta com 15 anos de serviço embarcado em submarinos, o feito de hoje de Noemie Freire como primeira submarinista é “mais uma fronteira que se rompe”, lembrando que os submarinos antigos “não tinham condições que permitissem condições de habitabilidade para haver mulheres a bordo”.
“A partir de agora passa a ser uma coisa normal”, frisou Gouveia e Melo, garantindo que “a normalidade é algo que procuramos”, referindo-se a esta força de defesa nacional.
Para o vice-almirante, as mulheres “dão um toque diferente às guarnições”, reconhecendo nelas “sensibilidade que os homens não têm”, e por isso são complementares aos homens: “e é nessa complementaridade que as guarnições acabam por encontrar melhores desempenhos. Para nós é uma vantagem extraordinária ter as mulheres dentro das guarnições”, reconheceu.
“A missão está acima dos pequenos incómodos da vida”, lembrou o vice-almirante.
Gouveia e Melo considerou ainda que, apesar de os submarinos, no dia a dia, criarem “incómodos na privacidade e na forma de estar”, tudo pode ser superado com pequenas adaptações.
“Foi mais de ordem mental, do que de ordem física interna, o submarino é o que é”, exemplificou, garantindo que “há muito tempo que as guarnições de esquadrilha de submarinos desejavam a abertura às mulheres”.
Para Gouveia e Melo, Noemie foi a primeira mulher a “quebrar a barreira”, esperando agora que muitas mais se sigam nos futuros cursos, tendo já confirmada a presença de mais duas naquele que se irá seguir.
Há sete anos que a Marinha portuguesa já dispõe de submarinos com condições logísticas e de habitabilidade que permitem responder aos requisitos de privacidade seja para homens ou mulheres, mas apenas em 2018 o ramo decidiu incentivar as militares a concorrer à especialidade.
A taxa de participação das mulheres nas Forças Armadas portuguesas é de cerca de 11 por cento.
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