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Morreu o militar desobediente que evitou a guerra nuclear em 1983

Morreu Stanislav Petrov, o herói soviético ainda pouco conhecido pelo ocidente. Em 1983, desobedeceu ao protolocolo militar e salvou a Humanidade, evitando um ataque nuclear. “Nunca pensei em mim como um herói, estava literalmente fazendo apenas o meu trabalho”.

Foi a 26 de setembro de 1983. Stanislav Petrov, tenente-coronel do exército da URSS, era o oficial de comando na equipa de monitorização por satélite em plena Guerra Fria. E eis que o computador revela que os EUA tinham acabado de lançar um míssil contra a superpotência rival.

As ordens da doutrina da Destruição Mútua Assegurada eram claras: se fosse lançado algum míssil contra a URSS, esta responderia de imediato com um míssil nuclear. E os EUA tinham lançado mais quatro logo após aquele primeiro. Mas Stanislav Petrov desobedeceu ao protocolo.

Conhecedor das dúvidas quanto à fiabilidade da rede de satélites, o militar soviético compreendeu que seria um alarme falso. Na altura do primeiro míssil detetado pelos computadores, assumiu que nunca os EUA se ficariam por apenas um. Quando surgiram mais quatro, resolveu confiar no instinto.

“Todos os meus subordinados estavam confusos, então comecei a pedir ordens para evitar o pânico”, recordou, numa entrevista em 2010: “Eu sabia que a minha decisão teria muitas consequências”.

Uma decisão que tinha de ser tomada em 30 minutos. Só metade desse tempo para avaliar se a ameaça era real.

“Afundei-me na poltrona, tinha as pernas bambas. Sentia que não ia conseguir levantar-me. Estava muito nervoso por ter de tomar essa decisão. Eu admito que estava com medo, sabia o nível de responsabilidade que detinha”.

Stanislav Petrov desobedeceu às ordens para retaliar e salvou o mundo da III Guerra Mundial e da destruição nuclear. Mas essa decisão, classificada como secreta durante dez anos, custou-lhe a carreira.

Os superiores do tenente-coronel foram responsabilizados pelo falso alerta, mas Stanislav Petrov foi condenado por não preencher um formulário. Foi recolocado em postos inferiores até ser reformado compulsivamente.

A Guerra Fria acabou há muito, mas parece perdurar em partes da sociedade russa. Stanislav Petrov morreu a 19 de maio, mas só ontem é que o mundo soube, tal como teve de esperar dez anos para conhecer a decisão que evitou a guerra nuclear. A morte do herói só foi revelada ontem porque Karl Schumacher, o realizador alemão que fez uma biografia do militar soviético, ligou-lhe para desejar os parabéns.

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