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Moçambique ainda não superou o impacto do escândalo da dívida oculta

A analista económica com o pelouro de África nas Nações Unidas disse que Moçambique ainda não ultrapassou as consequências do escândalo da dívida oculta, apontando a reestruturação e a África do Sul como “riscos importantes”.

“Outros riscos importantes para o país são uma desaceleração da atividade económica na África do Sul – um destino importante das exportações moçambicanas -, um aumento acima do esperado dos preços de bens importados como combustíveis e alimentos, bem como uma eventual falta de acordo nas negociações sobre a dívida”, disse Helena Afonso.

Em declarações à Lusa, a analista do departamento de prospeções económicas encarregada de África vincou que “o pesado fardo da dívida do sector público, acima de 100 por cento do PIB, continuará a afetar negativamente as perspetivas” de evolução da economia, pelo que “a política fiscal continuará a ser guiada por um compromisso com a consolidação fiscal destinada a reduzir a dívida pública e a consolidar e reequilibrar as despesas entre o investimento de capital e as despesas recorrentes elevadas”.

A ONU prevê que Moçambique cresça 3,4 por cento neste e no próximo ano, acelerando ligeiramente para 4,1 por cento em 2020, mas “ainda não conseguiu recuperar do impacto recente de vários choques negativos, externos e internos, em particular a descoberta de dívida oculta em 2016 no valor de aproximadamente 10 por cento do PIB, o que causou uma diminuição brusca do investimento público, investimento direto estrangeiro e ajuda externa ao desenvolvimento”, disse a analista.

A previsão de crescimento até 2020 “é baseada num crescimento moderado do consumo privado e na atividade de investimento mais firme, sustentada por maior investimento direto estrangeiro, particularmente em megaprojetos de gás natural liquefeito, bem como recuperação da atividade agrícola e maior atividade extrativa, sobretudo no setor do carvão”.

O relatório sobre a Situação Económica Mundial, hoje divulgado em Genebra, é elaborado em conjunto pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (UN/DESA), pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e pelos cinco departamentos regionais da ONU, com a contribuição da Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas.

No documento, os analistas dizem que só o pagamento dos juros dos empréstimos representa mais de 15 por cento das receitas governamentais, no ano passado, e vincam que “a dívida do Governo continua muito alta, em 95 por cento do PIB, caindo apenas alguns pontos percentuais por ano”.

A pressão pública para aumentar a despesa pública e proteger os subsídios permanece elevada em Moçambique, assim como noutros países da região, como o Botsuana, o Maláui e as Ilhas Maurícias.

Na abordagem global, a ONU/DESA diz que o crescimento económico mundial, que deverá ficar em 3 por cento, como no ano passado, “esconde riscos subjacentes e desequilíbrios”, apontando como exemplos “a confluência de riscos de curto prazo, como as tensões comerciais, as fragilidades financeiras e os riscos climatéricos”.

O crescimento económico “é desigual e muitas vezes não chega onde é mais preciso”, dizem os economistas, vincando que “as vulnerabilidades subjacentes põem em perigo o progresso de longo prazo relativo à implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

Entre os potenciais gatilhos de uma crise financeira, a ONU/DESA aponta “as tensões comerciais globais, os ajustamentos da política monetária nas economias desenvolvidas, choques de preços das matérias-primas, perturbações políticas na Europa associadas ao Brexit e as perturbações económicas ou políticas internas”.

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