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Mobilização de risco em Gaza assinala no sábado um ano de protestos junto à fronteira

Os palestinianos de Gaza foram chamados a manifestarem-se em massa no sábado ao longo da barreira que separa o enclave de Israel, numa concentração que assinala um ano dos protestos da “grande marcha do retorno”.

Os protestos iniciados a 30 de março de 2018 são oficialmente organizados pela sociedade civil, mas contam com o apoio do movimento radical palestiniano Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

Os palestinianos exigem o direito a regressar às terras que abandonaram ou de onde foram expulsos aquando da criação do Estado de Israel em 1948 e contestam o rígido bloqueio israelita ao enclave com mais de 10 anos.

Pelo menos 258 palestinianos foram mortos por tiros israelitas no último ano, a grande maioria durante as manifestações junto à barreira de segurança na qual milhares participam semana após semana.

Outros foram vítimas de ataques aéreos israelitas em represália aos atos de agressão com origem em Gaza.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), “cerca de 40 crianças foram mortas durante as manifestações” e à volta de “3.000 pessoas foram hospitalizadas por ferimentos, muitos dos quais provocaram situações de invalidez para toda a vida”.

Todas as semanas, uma parte dos manifestantes palestinianos afasta-se da multidão para se aproximar da barreira, queimam pneus para dificultar a visibilidade dos atiradores israelitas colocados do outro lado, lançam engenhos incendiários na direção dos soldados, tentam danificar a barreira e expõem-se às balas.

Apesar do perigo, muitos dos que se manifestam em Gaza consideram não ter muito a perder. A pobreza afeta um em cada dois habitantes do enclave e sete jovens em 10 estão desempregados.

Os balões com dispositivos incendiários lançados em direção a Israel já queimaram milhares de hectares de terras israelitas. Dois soldados morreram no mesmo período.

Um dos dias mais sangrentos foi o de 14 de maio de 2018, quando pelo menos 62 palestinianos foram mortos durante o protesto e centenas ficaram feridos. Nas televisões do mundo inteiro as imagens da violência em Gaza alternaram com as da inauguração da nova embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém.

Israel justifica o bloqueio à Faixa de Gaza com a necessidade de conter o Hamas, que classifica de terrorista e com o qual já se envolveu em três guerras desde 2008, excluindo o “direito de retorno” dos palestinianos por considerar que significaria o fim do Estado hebreu.

Quanto à utilização de balas reais na repressão dos protestos junto à barreira em Gaza e às acusações de uso excessivo da força por parte de organizações de defesa dos direitos humanos, Israel responde que não faz mais que defender a sua fronteira e proteger os seus cidadãos e acusa o Hamas de orquestrar as manifestações.

No mês passado, uma comissão de inquérito da ONU afirmou que a resposta israelita às manifestações pode constituir crime de guerra ou crime contra a humanidade, sublinhando os investigadores que soldados visaram civis palestinianos, incluíndo crianças.

Israel rejeitou o relatório da comissão considerando-o “hostil, mentiroso e parcial”.

A mobilização no sábado promete ser considerável, os organizadores apelaram à paralisação de qualquer atividade e o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, falou da “manifestação de um milhão” de pessoas. A Faixa é habitada por cerca de dois milhões de palestinianos.

Do lado de lá da barreira com vários metros de altura, o exército israelita prepara-se para um possível confronto.

O aniversário da “grande marcha do retorno” acontece em mais uma altura de tensão. Desde o início da semana foram disparadas por diversas vezes granadas de morteiro de Gaza contra Israel e o Estado hebreu atacou em represália dezenas de alvos no enclave.

A calma regressou entretanto, precária, e a aproximação das legislativas em Israel a 09 de abril faz aumentar o ambiente de incerteza.

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