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Ministro sul-africano diz que foi demitido por Zuma por recusar projeto com a Rússia

O ministro das Finanças da África do Sul, Nhlanhla Nene, disse hoje que foi demitido pelo antigo Presidente Jacob Zuma por se recusar a aprovar um megaprojeto nuclear multimilionário com a Rússia, em 2015.

No seu testemunho perante a Comissão Zondo, de investigação à corrupção no Estado, a decorrer em Joanesburgo, Nhlanhla Nene disse que na altura recusou por duas vezes assinar uma carta apresentada por Tina Joemat-Pettersson, antiga ministra da Energia, de forma a garantir a aprovação de um megaprojeto nuclear entre o antigo chefe de Estado sul-africano e o seu homólogo russo, Vladimir Putin.

Nhlanhla Nene, que foi demitido por Zuma em 2015, disse que “não assinaria a carta sem primeiro questionar as implicações financeiras e fiscais” do megaprojeto, facto que “irritou” Jacob Zuma, acrescentando que o antigo chefe de Estado o “pressionou” nesse sentido.

Segundo Nene, o Governo sul-africano “não aprovou qualquer modelo de financiamento para o megaprojeto nuclear, que poderia ter ultrapassado 1 trilião de rands (60.000 milhões de euros)”.

Segundo a imprensa sul-africana, Jacob Zuma teria apresentado o megaprojeto nuclear a Putin à margem de uma cimeira de chefes de Estado e de Governo dos BRICS (Brasil, Russia, Índia, China e África do Sul), que decorreu na cidade russa de Ufa, em 2015.

O antigo chefe de Estado tem negado as acusações dos seus críticos, segundo as quais tentou concretizar o negócio durante a sua estada em Ufa.

No seu testemunho, Nene disse acreditar que foi demitido do cargo de ministro das Finanças, em dezembro de 2015, por “recusar alinhar com certos projetos” que alegadamente beneficiariam a controversa família de negócios Gupta, próxima ao antigo Presidente Jacob Zuma.

O governante, e político do ANC (Congresso Nacional Africano, no poder), informou a comissão que “os projetos incluíram o negócio nuclear e a estratégia (de recapitalização) da SAA (South African Airways, companhia aérea estatal)”, acrescentando que “teriam beneficiado os Gupta e todos os seus associados”.

Jacob Zuma substituiu Nhlanhla Nene no cargo de ministro das Finanças por Van Rooyen, um deputado da bancada parlamentar do ANC, que seria também substituído quatro dias depois por Pravin Gordhan (atual ministro das Empresas Públicas).

Zuma demitiu depois Gordhan, o terceiro ministro das Finanças a ser nomeado na África do Sul num espaço de quatro dias, juntamente com o vice-ministro das Finanças, Mcebisi Jonas, em 2017.

O Presidente Cyril Ramaphosa, que substituiu Jacob Zuma no cargo, em fevereiro último, por decisão de última hora do partido no poder, chamou Nhlanhla Nene para o cargo de ministro das Finanças logo após a tomada de posse como chefe de Estado.

No seu testemunho perante a Comissão Zondo, Mcebisi Jonas disse que os Gupta ofereceram-lhe um suborno de 600 milhões de rands (36,2 milhões de euros) e o cargo de minist0ro das Finanças, em Outubro de 2015.

Nhlanhla Nene admitiu hoje perante a Comissão Zondo que se reuniu “por diversas ocasiões com elementos da família Gupta, na sua mansão em Joanesburgo e nos seus escritórios em Midrand (entre Joanesburgo e Pretória)”.

“Enquanto vice-ministro, visitei a sua residência em Saxonwold em quatro ocasiões, sempre acompanhado pelos meus protetores. Considerei estas visitas como parte das minhas funções como vice-ministro para envolver diferentes partes interessadas na economia. As visitas eram curtas e inicialmente destinavam-se a discutir a economia, e a contribuir com um artigo na revista deles, na altura a ‘The Thinker'”, afirmou Nene.

A Comissão Judicial Zondo, liderada pelo juíz Raymond Zondo, investiga alegações de ‘captura do Estado’ pela corrupção e fraude no sector público, incluindo orgãos do Estado.

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