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Ministro não altera discurso que Costa considerou “repugnante” e agrave crise política na Holanda

A reação de António Costa ajudou a abrir uma ferida no Governo holandês, com o ministro das Finanças a reiterar a tónica do discurso que o primeiro-ministro português classificou como “repugnante“.

Wopke Hoekstra, o ministro que tinha aberto a polémica ao sugerir uma investigação europeia a Espanha e Itália por não terem reservado fundos para lidar com uma eventual crise (como a pandemia de covid-19), veio pedir desculpa pela forma, mas não pelo conteúdo do discurso.

Um discurso que, recorde-se, foi classificado como “repugnante” por António Costa.

“Não mostrámos empatia suficiente e devemos admitir isso. Se há tantas críticas, é claro que fizemos algo de errado na nossa comunicação”, afirmou Hoekstra, do CDA.

Mas o certo é que as declarações do ministro das Finanças holandês e a reação do primeiro-ministro português fizeram abrir uma ferida no Governo holandês, resultante de uma coligação de quatro partidos.

Rob Jetten, líder parlamentar do D66 (o partido que indicou a vice-primeiro-ministro), criticou a “mesquinhez” da Holanda em rejeitar uma solução europeia para a pandemia.

“Enquanto hospitais alemães admitiram holandeses e quase todos os outros países europeus trocaram pacientes e equipamentos de proteção uns com os outros, a Holanda mostrou o seu lado mais mesquinho. O ministro das Finanças, Wopke Hoekstra, aproveita este momento de crise humanitária para dar lições de disciplina orçamental aos europeus do sul gravemente afetados. É o dedo de um contabilista no meio de um sofrimento humano desolador”, condenou, num artigo de opinião hoje publicado por vários jornais europeus.

Jetten destacou ainda os “sérios esforços de reforma” de dois países da Europa do Sul, Portugal e Grécia, lembrando que “o resultado não pode ser alcançado de um dia para o outro”.

A crise no Governo holandês tornou-se visível com a reação de António Costa ao discurso “repugnante” de Wopke Hoekstra e foi hoje agravada pela carta aberta, assinada por mais de 60 economistas, pela resposta ‘orgulhosamente só’ do país à crise sanitária que assola a Europa e o mundo.

“A Holanda não ficará livre do vírus por muito tempo se estiver rodeada por países com pessoas doentes. E o contacto é vital para uma nação comercial aberta como a Holanda. O comércio que fazemos principalmente através do mercado interno com outros Estados membros da UE”, lembraram os economistas.

“Não existem soluções holandesas, alemãs, francesas ou espanholas. A cooperação com os outros países é agora literalmente vital. Agora é a hora da solidariedade. Começa com nós mesmos. Governo, pare de bloquear. Assuma a responsabilidade. Pense de forma construtiva, para os outros e para nós próprios”, reforçou Rob Jetten.

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