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Ministro cabo-verdiano admite que desaparecimento de crianças exige reflexão

O ministro da Administração Interna cabo-verdiano, Paulo Rocha, admitiu hoje no parlamento que o desaparecimento de pessoas, particularmente de crianças, obriga a uma reflexão profunda sobre a complexidade deste tipo de crime.

“Estamos conscientes de que a sociedade cabo-verdiana se preocupa cada vez mais com um outro tipo de criminalidade, cuja prevenção estritamente policial é difícil, exigindo-lhe efetivamente reação qualificada, isto é, qualidade na capacidade investigativa”, afirmou Paulo Rocha, no início da primeira sessão parlamentar deste mês.

Sublinhando que Cabo Verde é hoje “um país mais seguro”, o ministro disse que situações como o desaparecimento de crianças “exige mais das autoridades, mais da polícia de investigação, mais do Ministério Público, mais dos cidadãos, muito mais da classe política”.

A 03 de fevereiro de 2017, duas crianças que terão agora 10 e 12 anos, desapareceram na cidade da Praia, após saírem de casa para comprar açúcar, caso que abalou a sociedade cabo-verdiana.

“As instituições policiais nacionais estão, como sempre estiveram, totalmente comprometidas em poder trazer tranquilidade e paz de espírito a todos nós, face à inquietude que os crimes mais graves trazem, ao sofrimento que os familiares das vítimas vivem diariamente”, prosseguiu.

E ressalvou que tais casos “não devem dar espaço ao discurso do medo, da tragédia, da desesperança”.

Segundo o ministro, os dados relativos aos primeiros cinco meses deste ano apontam para uma “diminuição de ocorrências criminais”, tanto de crimes contra as pessoas como de crimes contra o património.

“Temos menos ocorrências de violência baseada no género, menos roubos, menos ofensas à integridade física”, afirmou, sem contabilizar.

Em relação aos homicídios, o governante indicou uma tendência “estável” em relação ao ano passado, verificando-se o mesmo número de casos do que nos primeiros cinco meses de 2018.

Em 2018 registou-se uma redução na ordem dos 37 por cento, equivalente a menos um caso que em 2017, ano em que a redução havia já sido de 39 por cento, equivalente a 39 homicídios.

Segundo Paulo Rocha, registou-se “uma diminuição de ocorrências em 2019 superior a 20 por cento em relação ao período homólogo, em cinco das nove ilhas do país, em 13 dos 22 concelhos”.

“As ilhas do Sal, da Boavista, de São Vicente, bem como os concelhos da Praia, Santa Cruz, Santa Catarina, São Miguel, Tarrafal de São Nicolau e São Salvador do Mundo são exemplos claros de uma redução, que vai deixando de poder ser considerada de circunstancial”, prosseguiu.

Menos otimista, o líder parlamentar do maior partido da oposição em Cabo Verde (PAICV), Rui Semedo, apresentou uma leitura diferente: “A realidade incontornável, dura e crua, é que o país continua a enfrentar graves problemas de insegurança, pondo em causa a tranquilidade das pessoas, vulnerabilizando a integridade física e patrimonial dos cidadãos que abraçaram o caminho de viver uma vida digna e honesta e ameaçando a paz social”.

Admitindo que o Ministério da Administração Interna tem procurado respostas, Rui Semedo considera que estas “não têm surtido os efeitos esperados e desejados”.

E também sem indicar números, disse que “a gravidade da violência urbana é testemunhada pela quantidade de homicídios ocorridos no primeiro semestre deste ano, pelo aumento do abuso sexual de crianças, pelos assaltos à mão armada de forma cada vez mais ousada e descontrolada”.

Para o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), o culpado da situação tem um nome: Paulo Rocha.

“O senhor declarou guerra aos agentes da polícia nacional, quando a saída era a cooperação e o diálogo, afastou quadros muito competentes e experientes quando o caminho seria o da mobilização de todos, o senhor perseguiu os incómodos quando a saída seria entendê-los e aproveitar o seu conhecimento”, acusou.

E prosseguiu: “O senhor instalou o clima de medo e a desconfiança, quando se precisava de aumento de autoestima e de confiança, o senhor puniu os que falam e premiou os que optaram pelo silêncio, quando se sabe que as instituições só crescem se for estabelecido um quadro onde todos se expressam livremente e contribuem, desinibidamente, para fazer crescer a sua instituição”.

Rui Semedo acusou ainda o ministro de “discriminar os que atingem o limite de idade, mandando-os para casa, e premiar outros, nas mesmas circunstâncias, com cargos, quando a saída justa seria o tratamento com base na igualdade e no respeito”.

O líder parlamentar do PAICV acha que “esta maioria e o próprio ministro não se sentem incomodados com os assaltos à mão armada às residências das pessoas, com a violação das propriedades arduamente edificadas, com o assalto às residências de próprios agentes”.

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