A fuga de um senador boliviano causou o afastamento de um ministro brasileiro. Antonio Patriota foi ‘promovido’ a embaixador depois de um diplomata brasileiro na Bolívia ter auxiliado Roger Pinto, senador que acusa Governo boliviano de corrupção, a cruzar a fronteira.
Um incidente diplomático entre o Brasil e a Bolívia está a fazer aumentar a tensão entre os dois países sul-americanos. Em causa está a fuga de um senador boliviano, permitida por um diplomata brasileiro e que levou à demissão – ou à ‘promoção’ a embaixador – do então ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Patriota.
Na origem de todo o incidente está Roger Pinto, que passou 452 dias refugiado na embaixada do Brasil na Bolívia. O senador tem acusado o Governo boliviano, liderado por Evo Morales, de corrupção e queixou-se de ter recebido ameaças de morte, extendidas à família. Roger Pinto pediu o estatudo de refugiado político ao Brasil e este país concedeu-o, no ano passado, mas a Bolívia não reconhece a validade do mesmo e bloqueou-lhe a saída do país.
Só que o senador boliviano está no Brasil, acompanhado da família, desde sexta-feira. Aproveitando a chuva e o frio da noite, a família Pinto deixou a embaixada do Brasil numa viatura oficial, escoltada por outra na qual seguiam militares brasileiros, e percorreu 1600 quilómetros para, ao fim de 22 horas, chegar à cidade brasileira de Corumbá, de onde partiu de avião para Brasília.
Esta fuga só foi possível com a intervenção de Eduardo Saboia, diplomata brasileiro que exerce funções na embaixada do Brasil na Bolívia. “Havia uma violação constante, crónica, de direitos humanos, porque não havia perspectiva de saída, não havia negociação em curso e havia um problema de depressão que estava se agravando. Tivemos que chamar um médico e ele começou a falar de suicídio”, justificou-se Saboia.
Esta fuga custou o cargo ao ministro dos Negócios Estrangeiros. Antonio Patriota foi ‘promovido’ a embaixador do Brasil nas Nações Unidas e substituído no cargo por Luiz Alberto Figueiredo, nome anunciado pela Presidente Dilma Rousseff no mesmo comunicado em que foi divulgada a troca de nomes no Ministério.
Eduardo Saboia também foi afastado do cargo, mas lembra o percurso de Dilma Rousseff, quando estava na oposição à ditadura militar, para se justificar: “não me arrependo e aceito as consequências. Fiz uma opção por um perseguido político, como a presidente Dilma fez em sua história”.
A Bolívia continua a insistir que o estatuto de refugiado não é válido e exige o repatriamento de Roger Pinto para que seja julgado por corrupção.