Mundo

Migrações: Número de crianças sozinhas em condições degradantes está a aumentar

Centenas de crianças refugiadas vivem desacompanhadas na ilha grega de Lesbos, onde estão expostas a condições de vida desumanas e degradantes e o número está a aumentar, alertou hoje a organização humanitária Human Rights Watch.

As crianças, incapazes de garantir um lugar nos sobrelotados centros de acolhimento de refugiados da Grécia, enfrentam condições insalubres e inseguras, dormindo muitas vezes ao relento, refere a organização em comunicado hoje divulgado.

“Centenas de crianças são deixadas por sua própria conta em Lesbos, dormindo em colchões e caixas de papelão, expostas ao mau tempo que se vai sentido cada vez mais”, explica a responsável da Human Rights Watch na Grécia, Eva Cossé, na informação hoje divulgada.

“As autoridades gregas têm de garantir urgentemente que estas crianças recebem segurança e cuidados”, sublinhou.

Numa visita a Lesbos, entre 15 e 23 de outubro, a Human Rights Watch entrevistou 22 crianças desacompanhadas que moram no campo de acolhimento mais ocupado da ilha, o centro de Moria, onde, em outubro, viviam quase 14 mil pessoas.

Nesse campo, crianças com apenas 14 anos descreveram ter pouco ou nenhum acesso a cuidados, proteção ou serviços especializados.

Devido à sobrelotação das secções do campo de Moria reservadas às crianças desacompanhadas, a maioria dos menores entrevistados admitiu que estava a viver nas áreas gerais do campo, misturados com a população em geral, ou num local adjacente conhecido como “Olive Grove”, uma encosta rochosa da ilha onde as pessoas montam as suas próprias tendas para se abrigarem, mas não têm qualquer apoio.

“Tudo é perigoso aqui: o frio, o lugar onde eu durmo, as lutas. Não me sinto seguro”, disse Rachid R., um menino afegão desacompanhado, de 14 anos, que chegou a Moria no final de agosto.

“Somos cerca de 50 a dormir na grande tenda. Cheira muito mal, há ratos, e, às vezes, as pessoas morrem dentro da tenda”, descreveu.

A maioria das crianças entrevistadas relatou ter problemas psicológicos, incluindo ansiedade, depressão, dores de cabeça e insónia.

Já em setembro, a organização Médicos Sem Fronteiras tinha alertado para um aumento “alarmante” do número de crianças refugiadas em Lesbos que se tentavam suicidar ou que se mutilavam.

A organização médica pediu na altura à Grécia para retirar “com urgência” as pessoas mais vulneráveis dos campos sobrelotados e encaminhá-las para o continente ou para outros Estados-membros da União Europeia.

Quando a Human Rights Watch visitou Moria, em outubro, estavam registadas no campo 1.061 crianças desacompanhadas, das quais 587 residiam numa grande tenda (Rubb Hall) projetada para acomodar temporariamente os recém-chegados até passarem pelo processo de identificação.

No início de novembro, o número de crianças na Rubb Hall tinha aumentado para 600 e dezenas de outras viviam em campo aberto, sem abrigo e a dormir no chão ou partilhavam as tendas de adultos que desconheciam.

A situação nas ilhas gregas tornou-se mais aguda devido a um aumento das chegadas de refugiados a partir de julho.

No final de novembro, os registos apontavam a existência de 1.746 crianças desacompanhadas alojadas nos centros de acolhimento das ilhas de Lesbos, Samos, Chios, Kos e Leros.

As autoridades gregas anunciaram, no mês passado, quererem realojar 20.000 refugiados no continente até ao início de 2020, transformando os centros de identificação atualmente existentes nas ilhas em centros de detenção.

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, anunciou um plano para proteger crianças desacompanhadas, chamado “No Child Alone”, e o Governo enviou uma carta a todos os outros Estados da União Europeia a pedir para partilharem responsabilidades, recebendo voluntariamente 2.500 crianças desacompanhadas.

Até novembro, apenas um país respondeu ao apelo, segundo avançou a Grécia na comissão de Liberdades Civis do Parlamento Europeu.

Em destaque

Subir