Os micróbios que vivem no intestino humano podem ter uma grande responsabilidade na existência de várias patologias, como a obesidade, a ansiedade e a doença celíaca. O tópico está em debate no Congresso da Semana Digestiva da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.
Doenças associadas ao stress e à ansiedade, a obesidade, a doença celíaca e várias outras patologias podem ter uma explicação comum: os micróbrios que vivem no intestino humano.
As alterações no ecossistema de micróbios do intestino e os consequentes efeitos são um dos principais tópicos em debate no Congresso da Semana Digestiva da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), a decorrer até sábado no Estoril.
“Muitas das perturbações do nosso organismo que têm sido atribuídas a factores como o ambiente, os hábitos de vida ou o stress são muito mais influenciadas pelo ambiente microbiológico do tubo digestivo e não tanto pelos factores a que atribuíamos responsabilidade”, afirmou Leopoldo Matos, presidente da SPG, citado pela Lusa.
A microbiota, nome técnico do ecossistema microbiano que habita o intestino humano, e as modificações que nela ocorrem são dois dos temas que mais curiosidade despertam junto da comunidade científica.
São cada vez mais os estudos e ensaios que relacionam distúrbios intestinais com doenças metabólicas, a doença celíaca e doenças inflamatórias, complementou Leopoldo Matos.
No congresso, que assinala a Semana Digestiva, serão também abordados outros tópicos, como as doenças do fígado e a nova medicação contra a hepatite C.
Os novos fármacos “garantem, pela primeira vez, uma eficácia muito perto de 100 por cento, o que significa a erradicação do vírus do organismo infectado”, destacou o presidente da SPG, que salientou ainda a ausência de efeitos secundários significativos com a nova medicação.
Só que o uso do novo fármaco para a hepatite C ainda não foi aprovado pela autoridade do medicamento, o Infarmed, apesar da pressão da Ordem dos Médicos e de várias associações de doentes.
As dificuldades de acesso à nova terapêutica são “um problema universal e não exclusivo de Portugal”, acrescentou Leopoldo Matos, frisando que o custo dos novos medicamentos é “inatingível”, na maioria das economias nacionais, para o número de doentes infectados com hepatite C.
“Não é paradigma da comunidade médica discutir o preço ou os modelos de financiamento”, contrapôs o responsável: “entendemos que o caminho que os governos financiadores e a indústria devem fazer é o de um encontro de interesses e objectivos. Da parte médica, qualquer terapêutica com a qualidade e eficácia da que estamos a falar, desejamos sempre que seja para ontem”.