Em vésperas da visita a Portugal, Angela Merkel, chanceler alemã, considerou, no Parlamento Europeu, que Portugal e Espanha enfrentam um problema de falta de verba para a criação de emprego. Merkel disse, no entanto, que o desemprego jovem atingiu níveis “indignos”.
Uma frase de Angela Merkel em Bruxelas, ontem, no Parlamento Europeu, deixou perceber a capacidade de ingerência da chanceler nas políticas internas portuguesas. Merkel faz pedidos a Passos Coelho, exceto um: “Não posso pedir a Portugal que crie emprego porque eles não têm dinheiro”.
Este cenário português é comum a Espanha, segundo Angela Merkel, chanceler que vai visitar Lisboa, dentro de quatro dias, sendo que a formação profissional será um dos temas em discussão no encontro com o primeiro-ministro.
Dadas as dificuldades de Portugal em encontrar financiamento, o problema do desemprego não terá resolução imediata e vai agravar-se, segundo perspetiva a chanceler alemã.
O Governo escapa incólume a esta realidade. Passos Coelho e seus pares são elogiados por Angela Merkel, pela forma como estão a levar a cabo a consolidação orçamental, num cenário político adverso, com a perda do apoio dos parceiros sociais e com um Partido Socialista cada vez mais distante. Ontem, Passos Coelho revelou que a reforma do Estado vai avançar, mesmo sem o apoio de Seguro.
Mas apesar de reconhecer méritos ao Governo de Portugal, Merkel assume que o país “não tem dinheiro para combater o desemprego”, sobretudo o que afeta a população. A chanceler da Alemanha apelida de “indigno” o cenário do desemprego jovem em Portugal.
Em contraponto, Angela Merkel aponta o exemplo alemão, que conseguiu combater o desemprego entre a população graças a reformas que a esquerda, na Alemanha, também criticou. Nesse sentido, a chanceler estabelece um paralelo entre os dois países, colocando-se ao lado do Governo português.
Certo é que em Bruxelas diversos manifestantes esperaram Merkel para lhe mostrar uma mensagem: “A austeridade mata”. A chanceler alemã mostra-se sensível à situação económica dos manifestantes, mas não muda as suas políticas.
Angela Merkel realça que Portugal, a Irlanda, a Espanha e até a Grécia estão a conseguir combater o défice da balança das transações, os custos do trabalho, o que “é positivo”, tendo em vista a recuperação da competitividade” destes países em crise.
Depois de deixar o parlamento europeu, a chanceler reuniu com David Cameron, primeiro-ministro britânico. Em Londres, Cameron revelou que vetará todas as propostas de aumentar o orçamento comunitário.
Não colhe o apoio de Cameron, nem é bem-vinda a Portugal. Uma “carta aberta a Angela Merkel” circula desde ontem na internet para dizer à chanceler alemã que não será “bem-vinda” quando visitar Portugal, no dia 12.
As intenções são claras e expressas logo no primeiro parágrafo: “pelo caráter da visita anunciada e perante a grave situação económica e social vivida em Portugal, afirmamos que não é bem-vinda. A senhora chanceler deve ser considerada ‘persona non grata’ em território português porque vem, claramente, interferir nas decisões do Estado Português sem ter sido democraticamente mandatada por quem aqui vive”. leia mais