A Inglaterra continua em choque com o julgamento da morte à fome de um menino, escondida durante dois anos. O pai acusa a mãe de negligência e o “sistema” britânico de ter falhado, pois denunciara a ex-companheira à Segurança Social.
A Inglaterra acompanha com paixão o julgamento de Amanda Hutton, a mulher de 43 anos suspeita de ter deixado o próprio filho, Hamzah Khan, morrer à fome. A mãe da criança de quatro anos é ainda acusada de ter escondido o cadáver mumificado do menino durante dois anos: o crime terá ocorrido em 2009 e o corpo foi descoberto em dezembro de 2011.
Ontem, o tribunal ouviu o pai do garoto, Aftab Khan. Este taxista, de 45 anos, estava impedido de se aproximar do filho e da ex-companheira, tendo acusado Hamzah Khan pela morte do filho e a Segurança Social britânica de ignorar o caso. “Se eu fosse um marido agressivo, eu não estaria aqui em frente dela. Toda a gente sabe o que aconteceu. Vocês têm provas contundentes contra ela, mas ainda estão a tentar apontar-me o dedo”, afirmou.
Em causa estavam as discussões frequentes entre o antigo casal, com o pai a alegar que a ex-companheira estava “fora de si” na altura em que o crime terá ocorrido. “Ela não lhe dava banho e não lhe mudava as fraldas”, recordou Khan, apontando o dedo à Segurança Social por ter ignorado as denúncias que fizera ainda em 2010: “o sistema falhou com meu filho. Eu perdi toda a confiança no sistema”.
As acusações do pai do menino morto à fome somam-se às de uma testemunha ouvida na semana passada, citada sem identificação (por motivos de segurança) pelo jornal Mirror. “Ele estava duro e pálido. Parecia estar muito magro. Parecia uma vara fina porque não se alimentava muito”, terá dito a testemunha ao tribunal, acrescentando que a mãe só alimentaria a criança uma vez por dia, como castigo por ser “malcriado” e “desarrumado”.
Foi também esta testemunha quem revelou que o cadáver foi encontrado dentro de uma gaveta, coberto por folhas, e que Amanda Hutton continuou a receber o abono de família, usando esse dinheiro para comprar bebida e cigarros. “A casa estava cheia de sacos de lixo, alimentos estragados e roupa suja. Havia fezes de gato na casa de banho”, contou ainda a mesma testemunha.