Durante oito meses, um menino de 2 anos viveu nas ruas da Nigéria, depois da família o ter abandonado com receio de que fosse praticante de feitiçaria. Acolhido por uma dinamarquesa, a criança, que estava com subnutrição e vermes, tem agora “bochechas gordas”.
A história de Hope (Esperança), ontem contada pelo Independent, dá rosto a uma prática que ainda se mantém no século XXI: o abandono, a tortura e até a morte de milhares de crianças acusadas de feitiçaria.
Durante oito meses, um menino de 2 anos (sobre)viveu nas ruas da Nigéria, nu, a apanhar restos de comida.
Foi Anja Loven, uma dinamarquesa a cumprir uma missão humanitária na Nigéria, que viu a criança e se apiedou do estado miserável: com os ossos à mostra, de tanta magreza, e coberta por vermes.
As imagens da trabalhadora humanitária a dar de beber ao menino, que entretanto ganhou o nome de Hope, correm agora o mundo através das redes sociais.
Como acontece com milhares de crianças africanas, Hope terá sido abandonado pela família com receios de que fosse feiticeiro.
“Milhares de crianças estão a ser acusadas de serem feiticeiras e vimos torturas a crianças, crianças mortas e crianças assustadas”, escreveu Anja Loven, no Facebook.
A criadora da Fundação para a Educação e Desenvolvimento das Crianças Africanas, que trabalha com órfãos ‘suspeitos’ de serem bruxos, assumiu agora a ‘paternidade’ do menino.
“A condição de Hope é estável agora. Ele está a comer por si mesmo e responde à medicação que recebe”, referiu a trabalhadora humanitária, salientando que o menino continua a ser medicado contra os vermes e tem recebido várias transfusões para repor os níveis de glóbulos vermelhos no sangue.
“Vejam estas bochechas gordas. Hope está saudável e a ganhar peso a cada dia que passa. Ele é tão forte e em breve vai ter alta para que possa viver com as outras crianças do orfanato. Ele não pode falar, mas isso virá naturalmente quando ele estiver fora do hospital e começar a sua vida entre todos os nossos filhos. As crianças tornam-se mais fortes juntas”, complementou Anja Loven.
As imagens dramáticas do estado em que o menino foi encontrado serviram para angariar quase um milhão de dólares (perto de 900 mil euros) em apenas dois dias, verba que está destinada à construção de uma clínica para tratar outras crianças vítimas das ‘suspeitas’ de feitiçaria.