No dia em que Portugal celebra o 25 de Abril, Mário Soares concedeu uma entrevista à Agência Brasil, onde aborda o cenário social, económico e político do país. O antigo chefe de Estado reiterou as críticas ao Governo e defendeu eleições antecipadas, com a queda do Governo.
“Nunca houve tanto desemprego, tanta pobreza, tanta miséria e tanto desespero por parte da população”, lembra Mário Soares, que acusa o Governo de estar a “matar o país”, com uma postura de submissão à troika, tríade que serve “os mercados que querem ganhar dinheiro”.
Para Mário Soares, Portugal deveria fazer como a “Argentina e o Brasil”, que perante o mesmo cenário “disseram: ‘nós não pagamos’”.
O antigo Presidente da República recorda os tempos em que era primeiro-ministro e que Portugal teve de recorrer a um programa de assistência financeira. No entanto, lembra, não houve um aproveitamento dos credores. “Nós tivemos uma dificuldade e veio o Fundo Monetário Internacional, não a troika. Pedimos dinheiro emprestado, sem grandes juros, e depois, ao fim do ano, pagamos os juros e acabou a história”.
Desta vez, realça Mário Soares nesta entrevista, Portugal está “dois anos com a política de austeridade, com a qual os mercados se enchem de dinheiro às custas dos países que estão aflitos”.
Mário Soares considera que as conquistas sociais do 25 de abril de 1974 estão em risco: “O Serviço Nacional de Saúde quase desapareceu”, além de que “as universidades, que eram reconhecidas pelo nível internacional, hoje não têm dinheiro”.
Ausência sentida nas cerimónias do 25 de Abril, Mário Soares realça, no entanto, a importância da Revolução. “Foi uma revolução popular, mas pacífica. Não morreu uma pessoa, não houve retaliações. Foi uma manifestação política. Um dos grandes objetivos da Revolução de 25 de abril foi descolonizar. Nós não podíamos continuar com uma guerra que estava perdida em Angola, Moçambique e na Guiné. Não perdemos nada com isso, pelo contrário, ganhamos. São todos membros da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] com quem temos excelentes relações”.
Soares lembra ainda que Álvaro Cunhal, então líder do Partido Comunista Português, quis “fazer de Portugal ‘a Cuba do Ocidente’”.
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