Mário Soares: “Com o povo desesperado” Passos “corre riscos”

Mário Soares, ex-Presidente da República, assina um artigo no Diário de Notícias onde defende que o primeiro-ministro Passos Coelho “corre riscos”, com o “povo desesperado”. O antigo Presidente da República cita o caso da Grécia para dizer que preferia ver Portugal na situação dos helénicos, porque “Merkel não deixou cair” os gregos. “Antes fôssemos a Grécia”, escreve Soares.

De artigo em artigo, de declaração em declaração, o ex-Presidente da República Mário Soares vai acentuando o tom das críticas ao Governo de Passos Coelho. Hoje, no artigo de opinião que assina no Diário de Notícias, Mário Soares lança um alerta ao primeiro-ministro, que “corre riscos”, ao colocar o povo numa situação de desespero.

“O povo não existe para o primeiro-ministro e para o seu Governo. Tenha, pois, cuidado com o que lhe possa acontecer”, salienta Mário Soares, dirigindo-se a Pedro Passos Coelho. E o antigo chefe de Estado prossegue: “Com o povo desesperado e, em grande parte, na miséria, corre imensos riscos”.

O ex-Presidente da República considera, nesse sentido, que “é indispensável mudar de política”, sob pena de Portugal cair num caos social que propicie uma crise política. E é esse o conselho que Mário Soares, histórico socialista, dá a Passos Coelho.

Segundo revela Mário Soares neste artigo de opinião publicado hoje no Diário de Notícias, “Portugal inteiro” está contra o Governo e as opções de austeridade, em nome do cumprimento do défice – meta que está por cumprir.

“Antes fôssemos a Grécia”

Mário Soares compara Portugal à Grécia para defender que os helénicos estão numa situação bem mais vantajosa, no sentido em que contam com um apoio mais contundente de Angela Merkel.

O antigo chefe de Estado lembra a declaração de Merkel: “A chanceler Merkel cumpriu o que várias vezes disse, nos últimos tempos: ‘Não deixarei cair a Grécia’”. E assim Soares defende que, perante o cenário de enormes sacrifícios que estão a ser pedidos aos portugueses, seria mais vantajoso Portugal colocar-se no mesmo quadro que os gregos, para poder contar com uma ajuda mais consistente, por parte das instâncias europeias.

“Felizmente [Merkel] não deixou [cair a Grécia]. E lá se arranjou o dinheiro para dar à Grécia. E não foi pouco… Quando há vontade política, é assim que acontece”, salienta Mário Soares neste artigo de opinião

“Não somos a Grécia. Gritavam os membros do atual Governo, há um ano, com sobranceria”, recorda Soares. E prossegue: “Vendo as coisas, à luz de hoje, é caso para dizer, ‘antes fôssemos’”.

Para o histórico socialista, Passos Coelho continua a sua cruzada indiferente à realidade, “correndo riscos inúteis”, com os cortes que está a proceder em áreas sociais. E Mário Soares deixa um elogio ao PCP, na ressaca do congresso comunista.

Para Soares, o partido, que reelegeu Jerónimo de Sousa como secretário-geral, demonstra uma capacidade de chamar o povo para manifestações contra o Governo. Manifestações pacíficas, que merecem uma ressalva do socialista.

Recorde-se que o ex-Presidente da República, Mário Soares, acusou recentemente o Governo de Passos Coelho de estar “moribundo” e de ter a obrigação de “demitir-se”, face à “falta de sensibilidade” que tem demonstrado. Perante uma eventual crise política, Soares propôs que o atual chefe de Estado, Cavaco Silva, nomeie um novo Governo sem recurso a eleições antecipadas.