Mário Soares confessou no seminário ‘Cenários para o futuro da Ibero-América’, em Lisboa, que recebeu com otimismo a notícia da demissão de Paulo Portas, ministro que escreveu a Passos Coelho a manifestar a sua intenção “irrevogável” de se demitir. Mas rapidamente o antigo Presidente da República caiu em si e percebeu que nada mudaria.
“Realmente, eu pensava que já iria terminar este infeliz Governo, há dois ou três dias. Ou pelo menos que eles tinham de se demitir. Mas não, porque o Portas é um salta-pocinhas – é o mínimo que se pode dizer dele. É um salta-pocinhas…”, repete o antigo Presidente da República.
O histórico socialista achou que a decisão de Paulo Portas não permitiria a Passos Coelho aguentar um Governo fragilizado, apesar da confiança manifestada pelo primeiro-ministro, em resgatar o ministro e o apoio do CDS. E por isso Soares ficou surpreendido com os dias seguintes ao (afinal) revogável ‘adeus’ de Portas.
“Paulo Portas disse que saia, que se demitia, que a sua decisão era irrevogável, mas três dias depois muda de opinião e já está no Governo como vice-primeiro-ministro…”, resume Mário Soares, que ironiza com as posições extremas do líder do CDS, numa crise política com feridas aparentemente incuráveis.
Para Mário Soares, o aparentemente da frase anterior deve ser apagado, já que o antigo Presidente da República não acredita na ressurreição de um Governo que ‘morreu’ com a promessa de demissão de Portas.
“Que se amanhem, mas vão-se amanhar muito mal… Estou convencido de que vai ser uma desgraça total. O Governo não se vai aguentar muito tempo, porque agora é que já ninguém se entende”, defende ainda Mário Soares, num olhar ao futuro da coligação.
Não deixa de ser curioso que, há 30 anos, Mário Soares teve o primeiro vice-primeiro-ministro de um Governo em Portugal – Mota Pinto foi nomeado, no bloco central. E três décadas depois, o formato de Governo repete-se, com outros protagonistas, num cenário político que tem pontos em comum, mas muitas diferenças.
“Merkel é culpada”
Mas a crise que se vive em Portugal não tem culpa, por exclusivo, do Governo. Mário Soares reiterou críticas à chanceler alemã Angela Merkel, que é a “grande culpada da crise”, uma vez que foi Merkel que “fez as políticas de austeridade que foram um fracasso”.
O ex-Presidente da República antevê que 2014 trará grandes mudanças na União Europeia, a começar na “Alemanha de Merkel”.
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