Tecnologia

Marco Barbosa, criador da Bewarket: “O Instagram em Portugal nunca resultaria”

O PT Jornal esteve à conversa com Marco Barbosa:

Como foi chegar até aqui? Há 10 anos atrás imaginavas-te a gerir uma empresa aos 25?
Foi e está a ser muito trabalhoso e árduo, mas ao mesmo tempo espetacular. Aprende-se imenso, erra-se muito, cresce-se muito rápido, com muita persistência. Há 10 anos acho que apanhei a minha primeira bebedeira e recebi o meu primeiro computador. Engraçado pensar nisso agora. Nunca tinha imaginado isto. Esta ambição e motivação surgiu quando eu, o André Sousa, o José Faria, a Martinha Rocha e o professor João Barroso ficamos em quarto lugar mundial no Microsoft ImagineCup 2008.

De onde surgiu a ideia? Qual foi a altura em que pensaste “isto é capaz de funcionar”?
A ideia surgiu na tese de Mestrado, enquanto fazia uma relatório de 50 páginas sobre o estado atual do comércio eletrónico, sob a orientação do meu estimado professor Ramiro Gonçalves e Rosalina Babo.

O título inicial da tese proposta pelo meu professor foi “O comércio eletrónico e as ferramentas Web 2.0” e depois disso ficou “A aplicação do comércio eletrónico no mercado social”.

Tiraste algum curso universitário? De que forma isso contribuiu, ou não, para seguires em frente com o teu próprio projecto?
Sim, claro. As pessoas crescem psicologicamente, dependendo das pessoas que as rodeiam ou que elas escolhem para serem rodeadas. A UTAD tem muita qualidade neste aspeto. Existe um ambiente académico espetacular e uma proximidade brutal entre estudantes e professores (pelo menos no curso de Eng. Informática). Foram as pessoas que conheci durante o curso que me mudaram e me motivaram a crescer.

Fala-nos agora da aplicação. O que é a bewarket e quais as vantagens principais em utilizares o Facebook como plataforma para a aplicação ao invés de um site próprio?
Eu, em Portugal, costumo dizer que é uma espécie de OLX, mas no Facebook. O bewarket é um marketplace que junta o comércio eletrónico com as redes sociais, onde é possível ganhar dinheiro se conseguir compradores para outros vendedores, recomendar artigos, doar comissões para instituições de caridade, ver quem é o vendedor, amigos em comum, e o seu passado de transações. Ou seja, é tipo o OLX, mas não se limita a inserir um anuncio e entrar em contato com o vendedor.

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Qual foi o investimento inicial?
O investimento inicial ainda continua a ser. Desde há dois anos já investimos cerca de 80 mil euros para desenvolver, alojar o projeto, marketing e colocar isto a crescer. Procuramos atualmente um próximo round de investimento.

Inicialmente procurei uma empresa de desenvolvimento de software que acreditasse na ideia para que me ajudassem a torna-la realidade. Felizmente depois de muitos “não’s”, encontrei a Sétima Lda (representada por Rui Ramos e Miguel Vieira), que se apaixonou rapidamente pelo projeto e começamos esta aventura. Depois conseguimos investimentos através de família e amigos. Diogo Azevedo, Angelo Belchior, Joao Aresta, Rui Almeida e Afonso Barbosa, são as pessoas que investiram não só com dinheiro, mas também com tempo, dedicação e trabalho.

Que tipo de apoio tentaste arranjar em Portugal e que tipo de barreiras encontraste?
Eu acho que Portugal é a barreira. Se não há dinheiro, não há investimento, não há crescimento.
Mas se tivesse que enumerar um problema, é a cultura de startup. Startups como o Instagram, Pinterest, twitter, nunca resultariam nem seriam investidas se estivessem em Portugal, porque não faturam.

Ainda não temos um ecossistema que incentiva as pessoas a falharem e a arriscarem. Um pormenor interessante, em Portugal quem falha muito é um falhado, nos EUA, é alguém mais preparado com um futuro mais promissor.

Na tua opinião, qual ou quais os problemas em Portugal para que os jovens se vejam obrigados a tentar vender uma ideia lá fora?
Atenção que vender uma ideia lá fora é muito bom, é dinheiro que entra no país, é um certificado que a ideia pode ser internacional, e é a possibilidade de acesso facilitado a outro mercado. O problema é sempre arriscar e dar o primeiro passo. O medo de falhar é o nosso maior problema. Depois é a falta de pessoas e jovens que já tenham tido sucesso. Não temos exemplos de startups com sucesso mundial gigantesco, não temos para quem olhar, e isso dificulta acreditar que em Portugal é possível. Se houvesse vários exemplos, era fácil falar com um deles e perguntar apenas “Como vendo a minha ideia lá fora?” O problema é que em Portugal existem muito poucas pessoas que sabem como responder a isso. Ou seja, o processo de erro/aprendizagem torna-se demasiado longo e frustrante.

Como é que a tua ideia foi recebida em Silicon Valley e que tipo de apoio, de qualquer tipo, recebeste lá?
Muitos disseram que estávamos no mercado certo, com o produto quase certo. Vamos agora torna-lo o produto certo. Recebemos feedback importantíssimo, é difícil quantificar e qualificar. A nível de startups, é o melhor sitio do mundo para se estar, aprender e conhecer. As oportunidades surgem em quantidades brutais, os jovens estão no ‘topo da cadeia alimentar’. São as seres mais importantes para aquela gente.

A nível de mentalidades no meio empresarial, quais as diferenças entre os portugueses e os norte-americanos?
bewarket 4 bigO bem-estar pessoal, profissional e psicológico dos funcionários é o mais importante para as empresas de lá que tão bem conhecemos. A uma hora de distância estamos onde precisamos de estar, com quem deveríamos estar. As empresas ajudam os funcionários a concretizarem as suas ideias e ainda investem neles. É impressionante. E depois estudar em Standford, trabalhar no Google ou Facebook, é trabalhar constantemente com pessoas que sabem mais que nós, o que é brutal.

Por exemplo, um trabalhador do facebook, um da Google e outro da Microsoft, são amigos e criam uma startup. Neste momento, a startup deles está com muita vantagem em relação a alguém que esteja em Portugal a tentar desenvolver a mesma coisa, sem recursos, com muitas dificuldades, e a remar contra a maré.

Quais os projectos para o futuro da aplicação bewarket? A empresa vai-se ficar por esta aplicação?
A aplicação vai levar uma mudança radical num espaço de meio ano. O design, UX/UI, funcionalidades, processos de compra, etc.. será tudo redesenhado. Sim, lançaremos mais produtos ainda este ano.

Onde queres estar daqui a 10 anos e a fazer o quê?
Pergunta intrigante, só costumo ter perspetivas entre 3 e 5 anos lol. É imenso tempo, a vida dá muitas voltas.
Sei pelo menos que ficaria extremamente feliz se a webankor (empresa detentora do bewarket) fizesse um IPO e se tornasse a melhor incubadora de startups do país!

Clique aqui para saber mais sobre a bewarket.

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