Marcelo acusa Passos de ser “desastrado” e de criar “sarilho” com salário mínimo nacional

No comentário na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa acusou Passos Coelho, primeiro-ministro, de arranjar “um berbicacho” com a questão do salário mínimo. “O Governo deu um, dois, três, quatro tiros no pé”, defendeu o comentador, que assinala “um sarilho monumental” criado pelo primeiro-ministro. Marcelo revelou ainda que há “tensão” entre a troika e o Governo.

Marcelo Rebelo de Sousa voltou a tecer críticas ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. No seu comentário político semanal, que assina na TVI, o professor considerou que Passos “arranjou um berbicacho”, na temática do salário mínimo nacional.

Em causa estão também as declarações de António Borges, consultor do Governo para as privatizações, que numa entrevista à Rádio Renascença afirmou que Portugal teria ganhar com uma descida do salário mínimo.

Marcelo Rebelo de Sousa viu o executivo de Passos dar “tiros no pé”, permitindo que a oposição conseguisse colar a visão do Governo à do consultor. Ou seja, Passos Coelho, apesar de nunca defender a descida do salário, viu a sua posição confundida com a de António Borges.

“A oposição apareceu logo a dizer que António Borges estava a dizer em voz alta o que Passos Coelho não diz”, salienta Marcelo, que destaca ainda: “O Governo deu um, dois, três, quatro tiros no pé. Estupidamente, deixou criar um problema que não existia”.

O professor considera que esta semana acaba por ser negativa para o Governo, que foi “desastrado”, porque não soube valorizar os factos positivos e deixou-se cair no engodo de questões às quais é alheio.

Em causa está, por exemplo, a perspetiva de melhoria de rating de Portugal. “Em vez de valorizar as boas notícias, o Governo arranjou um sarilho monumental, um berbicacho, com o salário mínimo.

Recorde-se que no último debate quinzenal, Pedro Passos Coelho rebateu as propostas do PS, uma das quais a subida do salário mínimo. Passos nunca defendeu a descida do salário, mas a sua posição confundiu-se com o ideal de Borges, trunfo político que a oposição soube colher em seu benefício.

“Passos Coelho deveria ter dito que o aumento do salário mínimo está a ser discutido na concertação social. Ou deveria considerar que é justo, que adoraria fazê-lo, mas que não se pode comprometer com a medida”, argumentou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

Sobre as negociações com a troika, Marcelo entende que “é bom sinal” que se verifique uma demora nas negociações, nesta avaliação a Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa revelou que “há uma grande tensão entre a troika e o Governo”, porque o executivo de Pedro Passos Coelho “fez finca-pé”.

E este atraso deve estar relacionado com a avaliação do Tribunal Constitucional (TC) a algumas medidas do Orçamento de Estado. “Concluir as negociações com a troika, nesta altura, é perda de tempo”, defende Marcelo, já que a estratégia do Governo pode ser travada, caso o TC considere algumas medidas inconstitucionais.

Recorde-se que a troika e o Governo estão a estudar um corte de 4000 milhões de euros (com mais cortes nas pensões), numa reforma do Estado que agravará o cenário económico. No entanto, o Governo deverá aguardar pelo parecer do TC, até encerrar as negociações com a troika.