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“Luís Montenegro arrisca-se a ser o último primeiro-ministro do PSD”

Rui Gomes da Silva critica a “voracidade do PSD” em devorar os próprios líderes e acredita que, depois da polémica com André Ventura e o Chega a propósito do Orçamento de Estado, “Luís Montenegro arrisca-se a ser o último primeiro-ministro do PSD”.

O histórico dirigente do PSD, que foi ministro dos Assuntos Parlamentares e ministro-adjunto do primeiro-ministro no Governo encabeçado por Pedro Santana Lopes, alerta que André Ventura mostrou-se mais confiável do que todo o PSD na questão das reuniões preparatórias.

“Uma das partes não vai ser confiável. Conhecendo a voracidade com que o PSD destrói líderes e vai criando novas figuras, aposto mais na continuidade de André Ventura [como líder da oposição] do que na de Luís Montenegro [como primeiro-ministro]. É difícil dizer isto, mas Luís Montenegro arrisca-se a ser o último primeiro-ministro do PSD”.

Rui Gomes da Silva e a “voracidade” do PSD

Em causa está o facto de André Ventura ter dito que o Chega participou em cinco reuniões com o PSD para preparar o Orçamento de Estado para 2025, com o PSD a responder que foram duas reuniões, através do primeiro-ministro Luís Montenegro, e com três ministros (sociais-democratas) a dizerem que tais reuniões nem sequer existiram.

“Acho que o primeiro-ministro entrou por um caminho que é difícil. Seria uma loucura para um líder da oposição dizer que tive cinco reuniões [se tal não fosse verdade], mas mais loucura teve o Governo com aquele discurso a desprezar toda a participação do Chega e do André Ventura quando teve essas cinco reuniões”, argumentou Rui Gomes da Silva.

“Ninguém que se quer ir embora de um casamento marca cinco reuniões com a mulher para lhe dizer que quer ir-se embora”, ironizou o histórico do PSD, que cumpriu 22 anos como deputado, além das passagens como ministro do XVI Governo Constitucional.

“Pior é que, depois da declaração de André Ventura, tivemos três ministros a dizer que não houve nenhuma reunião. Pelo menos duas, houve”, insistiu Rui Gomes da Silva, em entrevista num podcast da Rádio Observador.

“Episódio do PSD em que o crime compensa”

Rui Gomes da Silva fez parte de um Governo que tinha Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro. Esse executivo resultou da maioria da Aliança Democrática (AD, de PSD+CDS) nas eleições de 2002, mas só tomou posse em 2024 depois de Durão Barroso trocar o cargo de primeiro-ministro por um lugar em Bruxelas.

O Governo de Santana Lopes viria a cair em março de 2005, ainda antes de cumprir um ano, porque foi “fragilizado por fatores internos do PSD”, como contou Rui Gomes da Silva.

“Não foi por falta de opção”, enquadrou: “É conhecido, nas memórias do Presidente Sampaio, que ele tentou várias opções dentro do PSD que sucedessem a Durão Barroso que não Santana Lopes. Falou com Luís Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, Leonor Beleza… Todos lhe disseram que o PSD queria Santana Lopes. O PSD quis Santana Lopes, o CDS quis Santana Lopes, não houve problema em relação a essa maioria constituída na Assembleia”.

Em 2024, o PSD recusou aliar-se com o Chega para formar Governo. Só que há 20 anos não foi por causa de outro partido que o Governo de Santana Lopes caiu, mas sim pelos “fatores internos” do próprio PSD, de acordo com Rui Gomes da Silva.

Afinal, no primeiro congresso do PSD após Santana Lopes tomar posse como líder do Governo, “a dois anos das eleições e num quadro de estabilidade, houve duas intervenções a levantar problemas, a dizer que poderia não haver AD” nessas futuras eleições. E uma dessas intervenções, lembrou Rui Gomes da Silva, foi de um dirigente “que hoje é um putativo candidato à Presidência da República”.

“Cavaco e Marcelo interessados na queda do Governo”

Esse foi um “episódio da vida política” do próprio PSD “em que o crime compensa”. Para Rui Gomes da Silva, o Governo de Santana Lopes caiu por causa dos “dois interessados” do PSD, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa.

“O Governo tinha uma maioria estável na Assembleia, mas havia duas pessoas interessadas [na sua queda]. Se aquele Governo estivesse em funções, uma [Cavaco] poderia não ser Presidente da República e a outra [Marcelo] o Presidente da República seguinte”, acusou.

“Para Marcelo Rebelo de Sousa, interessava que o Governo caísse para que Cavaco Silva fosse eleito Presidente. Para quê? Para que ele [Marcelo] pudesse ser a pessoa a seguir [na Presidência da República]. Cavaco percebia que, se o Governo estivesse em funções perderia outra vez. Seria a segunda vez que perderia um ato eleitoral e nunca mais seria Presidente”, fundamentou o ex-deputado e ex-ministro.

“Melhor maneira de parar o Chega? Incluí-lo no Governo”

No entanto, esta tendência do PSD para se autodestruir pode ser também a melhor ferramenta do partido para travar o crescimento do Chega, uma formação política que tem crescido sobretudo entre as bases sociais-democratas.

“O meu problema é este: Qual a melhor maneira de parar o Chega? Para o PSD, seria incluí-lo no Governo e estancar esta infelicidade”, defendeu Rui Gomes da Silva, que antecipa um resto de mandato muito complicado para o primeiro-ministro Luís Montenegro.

“Mais tarde ou mais cedo o Governo vai ter problemas. Não teve [até agora], porquê? Porque esteve a meter dinheiro nos problemas. Não resolveu nada, esteve a meter dinheiro. É a maneira mais difícil para depois resolver os problemas em termos estruturais”, sustentou.

Mas será André Ventura um parceiro confiável num Governo de direita? Rui Gomes da Silva respondeu que nunca teve “razão de queixa dos ministros do CDS” com quem trabalhou no XVI Governo Constitucional, como… Paulo Portas.

“Quem é que, de entre os políticos todos, não teve tantas ambições como Paulo Portas, até de ser Presidente da República e de um Governo minoritário de um partido tão pequenino como CDS? Não tive qualquer razão de queixa dos ministros do CDS no Governo onde estive, nem dos deputados [do CDS] nos 22 anos em que estive na Assembleia. As pessoas têm de entender que os compromissos são para se honrar”.

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