Cultura

Livros do Convento da Arrábida são mostrados pela primeira vez ao público

Livros do Convento da Arrábida são mostrados pela primeira vez ao público, a par de esculturas religiosas e alfaias litúrgicas, na exposição que é inaugurada na quinta-feira, no Museu do Oriente, em Lisboa.

A mostra intitulada “Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida” apresenta 36 obras, datadas de 1507 a 1860, que refletem uma “diversidade de saberes contido na Livraria do Convento” franciscano, fundado em 1542 por frei Martinho de Santa Maria.

Na mostra vão estar expostas pela primeira vez obras como o “Tratado de Oração e Devoção de S. Pedro de Alcântara”, de 1739, ou os escritos datados de 1609 de S. Boaventura, teólogo e filósofo escolástico que viveu entre 1221 e 1274, e que foi superior geral dos franciscanos.

Entre os livros expostos encontram-se “exemplares únicos, como uma cópia inteiramente manuscrita do ‘Tratado de Quiromancia’, de Inácio Vieira (século XVIII), com um desdobrável ilustrado dos signos do zodíaco, ou o ‘Jardim Spiritual’, de frei Pedro de Santo António (1632), que, além de ser uma obra fundamental do pensamento franciscano, tem a particularidade de ser dedicado a Nossa Senhora da Arrábida, que surge representada numa gravura em posição sentada e coroada por um sol raiado, uma iconografia raríssima”, segundo comunicado do Museu.

Na exposição “encontram-se títulos mais inesperados e inéditos em Portugal, como o texto de Anders Retzius sobre Botânica, de 1789, ou a ‘História da China’, de Martino Martini (1658)”, segundo a mesma fonte.

Esta exposição faz parte do programa de celebrações do 30.º aniversário da criação da Fundação Oriente, atual proprietária do Convento da Arrábida e da respetiva biblioteca, que inclui no seu espólio obras do início do século XVI até ao século XX.

A Biblioteca do Convento da Arrábida “era uma verdadeira biblioteca de estudo e aprofundamento de conhecimentos transdisciplinares, como demonstram as marcas de uso e anotações manuscritas dos seus livros, bem como a existência de livros proibidos, com marcas de censura como cortes de páginas e rasurados”, afirma o Museu do Oriente.

“Nela coexistiam obras dos santos padres, de teologia dogmática e moral, de filósofos e historiadores gregos e latinos, místicos medievais, humanistas nacionais e estrangeiros, com textos de áreas científicas, de história militar e botânica”, acrescenta.

Segundo a mesma fonte o acervo bibliotecário é composto por 2.865 volumes, e “permaneceu desconhecido do grande público até à atualidade”.

O espólio foi, entretanto, inventariado na íntegra no catálogo ‘online’ do Centro de Documentação António Alçada Baptista.

Anterior à construção do convento, situado na maior altitude da serra da Arrábida, em Setúbal, existia a ermida da Memória, que era espaço de devoção e romarias, e junto da qual, durante dois anos, viveram, em celas escavadas nas rochas, os primeiros quatro frades arrábidos, Martinho de Santa Maria, Diogo de Lisboa, Francisco Pedraita e São Pedro de Alcântara, um dos santos a quem foi atribuído o dom da levitação, segundo documentos do século XVI.

Em 1834, o Governo português extinguiu as ordens religiosas e determinou o encerramento de todos os conventos masculinos e a expulsão dos frades, tendo o Convento da Arrábida e respetivas capelas e celas sido pilhadas.

Em 1863, o convento foi adquirido pelo duque de Palmela, Domingos de Sousa Holstein, e alvo de obras nas décadas de 1940 e 1950.

Em 1990, a Fundação Oriente adquiriu o Convento e área envolvente, num total de 25 hectares.

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