Se acha que Jürgen Klopp é adorado pela qualidade de futebol que impõe nas suas equipas ou pelos seus festejos exuberantes, tem razão, ele é adorado por tudo isso, mas não só.
A história tem mais de uma década, aconteceu em 2004, mas comecemos pelo início.
Klopp passou grande parte da sua carreira de jogador no Mainz – 10 épocas ao todo.
Dentro de campo já era um líder nato, mas seria em 2001 que acabaria por assumir o cargo de treinador principal da equipa, na altura na segunda liga alemã.
Nas duas primeiras épocas, e de forma dramática, Klopp falhou o objetivo de subir ao principal escalão do futebol alemão. Em 2001/2002, o Mainz ficou a um ponto do terceiro lugar (que daria a subida). Em 2002/2003, história parecida. Com os mesmos 62 pontos que o Eintracht Frankfurt, contou a diferença de golos marcados e sofridos das duas equipas. O Mainz não subiu por um golo.
Com o carácter forte que o caracteriza, Jürgen Klopp não baixou os braços e viria a conseguir a tão desejada subida de divisão na época 2003/2004. E é precisamente nessa temporada que surge a história que ficaria eterna na mente de jogadores, adeptos e amantes do futebol por todo o mundo.
Antes da temporada se iniciar, Klopp tomou uma decisão incrível e que ia contra todas as “regras” de preparação de uma equipa em pré-época.
Pegou em todo o plantel e marcou uma semana de férias num lago, na Suécia. Férias é como quem diz… mas já lá vamos.
À primeira vista parecia boa decisão, levar os jogadores para temperaturas baixas para que o que corpo se adaptasse mais rapidamente a situações extremas.
Contudo, o objetivo de Klopp não tinha nada a ver com preparação física. A ideia era preparar única e exclusivamente a mente dos seus jogadores.
Klopp levou-os para acampar ao relento, sem eletricidade nem comida. Em vez de um hotel de 5 estrelas com aquecimento, o técnico alemão obrigou os jogadores a pescarem para comer, e a acenderem fogueiras para se aquecerem.
E assim foi durante cinco longos dias.
Na altura, a equipa técnica de Klopp considerou-o louco: “Os meus assistentes perguntaram-me se não seria melhor treinarmos e jogarmos futebol? Eu dizia-lhes que não. Perguntaram-me que era possível treinarmos lá, nem que fosse só correr. Eu disse-lhes que não. Correr não dá, mas podemos nadar e pescar, respondi”.
Mas é o próprio a explicar o porquê de tão bizarra preparação de pré-época: “Naquela altura, eu queria que os meus jogadores sentissem que poderiam sobreviver a tudo e ultrapassar qualquer barreira. Ainda hoje, quando encontro alguns deles, todos se lembram o que aconteceu em cada um dos dias. Foi como o Braveheart, eramos poucos mas bons. Ninguém imagina o quão fortes ficamos depois dessa experiência”.
Coincidência ou não, meses depois, o Mainz subia à Bundesliga pela primeira vez na sua história, com Jürgen Klopp no comando.
Klopp manteve-se no comando do Mainz por mais três épocas. Nas primeiras duas conseguiu um tranquilo 11.º lugar. Em 2006/06, acabaria por não evitar a descida de divisão do emblema do coração.
Contudo, Klopp manteve-se no escalão máximo ao aceitar o convite do Borussia Dortmund, emblema histórico alemão mas que há muito tinha deixado de conseguir lutar com o todo-poderoso Bayern de Munique.
O resto é história. Ao serviço do Borussia, Klopp ganhou dois campeonatos e três taças da Alemanha. Pode achar-se pouco, em sete anos, mas certo é que há em Dortmund um antes e um depois de Klopp.
Olhando para o seu percurso, e contando já com a sua nova aventura no Liverpool, chega-se claramente a uma conclusão. Não peçam a Klopp muitos campeonatos, peçam-lhe paixão e liderança, que isso ele tem para dar e vender. Os resultados, com homens destes no comando, chegarão naturalmente.
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