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Jornais debatem vandalismo do ‘tampão anal’ de McCarthy

tampao de paris O debate político em França está centrado num… ‘tampão anal’. A vandalização de uma estrutura de Paul McCarthy colocou os jornais a analisar uma peça de arte a partir de vários quadrantes políticos. Certo é que ‘A Árvore’ não voltará a erguer-se.

A instalação de Paul McCarthty, composta por um insuflável com 24 metros de altura, foi vandalizada, em Paris (França). Embora o título oficial seja ‘A Árvore’, o povo optou por chamar-lhe ‘tampão anal’.

Enquanto não é descoberto quem cometeu o crime, os jornais vão fornecendo pistas para a investigação (mesmo que as autoridades não as tenham pedido).

O Libération, de esquerda, não tem dúvidas em acusar os movimentos católicos, sobretudo depois de várias figuras ligadas à Igreja francesa se terem pronunciado contra o ‘tampão anal’. O jornal questiona mesmo como é que um católico tradicional se refere com tanto conhecimento a “um objeto não tão conhecido da maioria das pessoas e que serve notadamente para preparar a sodomia”.

Afinal, os movimentos católicos foram os primeiros a criticar a instalação na Praça Vendôme, em Paris, no âmbito do percurso ‘Hors les Murs’ da Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC).

“Um ‘tampão anal’ gigante de 24 metros de altura acaba de ser instalado na Praça Vendôme! A praça foi desfigurada! Paris foi humilhada!”, publicou o Pritemps Français, no Twitter, poucas horas após a colocação da estrutura, na quinta-feira.

O mesmo grupo, conhecido por reunir militantes católicos de direita, foi também dos primeiros a comentar o vandalismo sobre ‘A Árvore’ de McCarthty: “Ups… O pinheiro de Natal da Place Vandôme explodiu?”.

O Le Figaro, do centro-direita, preferiu centrar o debate no plano artístico e deixou uma questão, num título garrafal: “Para que serve o pinheiro de Natal feio da Praça Vendôme?”

Para além de relatar o vandalismo, o mesmo jornal entrevistou um conhecido professor de arte, Jean-Louis Harouel, que não poupou nos comentários à “palhaçada”.

O ‘tampão anal’ é “sintomático de uma crise profunda da sociedade e da civilização”, considerou Harouel, referindo-se a Paul McCarthty como “o senhor que poluiu a Praça Vendôme”.

Quanto ao artista, já garantiu que não autoriza a reinstalação da obra.

“Na sequência dos atos de vandalismo contra a peça ‘A Árvore’, de Paul McCarthy, instalada na Praça Vendôme, em Paris, no âmbito do percurso ‘Hors les Murs’ da FIAC, a mesma não poderá ser reinstalada”, referiu um comunicado emitido pela organização.

Refira-se que foi o próprio Paul McCarthy, de 69 anos, que chegou a ser agredido durante a instalação da peça, a admitir que a estrutura poderia ser interpretada como um ‘tampão anal’.

O artista não quer “estar envolvido em confrontos, nem continuar a correr riscos com este trabalho”, pelo que não vai autorizar a reinstalação.

“Em vez de provocar uma reflexão profunda sobre a existência dos objetos como um meio de expressão em si mesmo, nomeadamente na pluralidade de significados, temos assistido a reações violentas”, lamentou Paul McCarthy.

Alguns deputados franceses chegaram a referir-se à instalação como “uma provocação”, até mesmo uma “humilhação”, mas a presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, o mais “inaceitável” foi mesmo o vandalismo.

“Paris não vai sucumbir às ameaças daqueles que, atacando um artista ou seu trabalho, atacam também a liberdade artística. A arte tem seu lugar em nossas ruas e ninguém pode fazê-la sumir”, argumentou Hidalgo.

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