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João Lourenço quer “resgatar” o que de melhor foi vivido entre povos de Portugal e Angola

O Presidente angolano afirmou hoje ser do interesse e da responsabilidade de Angola e de Portugal “resgatar o que de melhor foi vivido” entre os dois povos ao longo de séculos e construir um futuro de “amizade, fraternidade e cooperação”.

A ideia foi sustentada na intervenção de João Lourenço durante o jantar com que obsequiou hoje o homólogo português, que decorreu no Palácio Presidencial, em Luanda, último ato oficial do primeiro dia da visita de Estado de quatro dias a Angola que Marcelo Rebelo de Sousa iniciou hoje.

“É do nosso interesse e responsabilidade resgatar o que de melhor foi vivido entre os nossos respetivos povos ao longo de séculos e construir um futuro de amizade, fraternidade e de cooperação, em benefício comum”, afirmou João Lourenço, antes de brindar às relações entre os dois países.

“Este sentimento, que sabemos ser recíproco, funda-se na longa história comum dos dois povos, que sempre souberam entender, para além das contingências e vicissitudes temporais, que eram ambos vítimas do mesmo sistema opressor e que só numa luta conjunta lhe poderiam pôr termo, o que efetivamente viria a acontecer aos 25 de abril de 1974”, dia do fim dos 48 anos de ditadura o Estado Novo em Portugal, disse.

Para João Lourenço, tudo isto está já plasmado no estado atual das relações políticas e diplomáticas e de cooperação económica, científica, técnica e cultural, pelo que disse estar certo de que “poderão evoluir para patamares ainda mais altos”, lembrando ainda as questões económicas.

“O ‘stock’ da dívida para com o Governo e entidades portuguesas e a dívida certificada para com as empresas portuguesas ainda por liquidar é uma questão que vem sendo honrada e resolvida com pragmatismo e espírito de responsabilidade, de modo a não constituir nunca um fator de estrangulamento nas relações de cooperação que pretendemos aprofundar”, sustentou.

Relembrando a deslocação a Angola do primeiro-ministro português, António Costa, em setembro de 2018, e a visita de Estado que efetuou a Portugal em novembro do mesmo ano, João Lourenço salientou que foram assinados 24 instrumentos de cooperação.

A esse número, acrescentou, há que adicionar os 11 hoje assinados, pelo que o total é de 35, o que “demonstra claramente a vontade das partes em darem passos concretos a favor da cooperação nos mais diversos domínios e áreas de interesse comum.

A assinatura, em 2018, de um Programa Executivo de Cooperação (PEC) “atende à necessária complementaridade das ações a realizar”, tendo em conta as oportunidades na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável adotada pela ONU.

“Aguardamos, com alguma expectativa que o Observatório de Investimentos criado pelos nossos dois países, cujo desempenho é vital para o acompanhamento e incentivo dos investimentos angolanos em Portugal e portugueses em Angola, ganhe força e vitalidade, dando assim conteúdo a uma cooperação verdadeiramente estratégica”, sublinhou.

O Presidente angolano lembrou o processo em curso em Angola para a realização, em 2020, das primeiras eleições autárquicas no país, “experiência nova a ser implantada na cultura política”, solicitando o apoio de Portugal nesse sentido, “por possuir uma longa tradição e experiência nesse domínio”.

João Lourenço falou também do respeito dos dois países “pelos mesmos valores democráticos e de respeito pelos direitos humanos”, em que Angola e Portugal “lutam por um mundo de paz e harmonia entre todas as nações”, lembrando que as autoridades de Luanda defendem a resolução de conflitos por via do diálogo e da reconciliação ao nível regional, continental ou mundial.

A esse propósito, salientou que o mundo vive hoje num clima de insegurança”, com conflitos que ameaçam regiões de alguma forma conturbadas, exemplificando com os casos da península coreana e do Médio Oriente.

“Assistimos ao arrastar da aplicação da Resolução do Conselho de Segurança da ONU que recomenda o estabelecimento de dois Estados, o de Israel já existente e a criação e reconhecimento de um novo, o Palestina, [que Angola considera como a] única solução favorável a todas as partes para o alcance da paz definitiva na região.

Também a situação de crise na Venezuela, que disse acompanhar “com muita atenção”, considerando “ainda não ser tarde para se dar a oportunidade ao diálogo aberto entre as forças políticas internas”.

Outro exemplo é o clima de tensão na República Centro-Africana, em que João Lourenço aproveitou para “ressaltar e louvar o importante papel desempenhado por Portugal”, que destacou para o terreno forças militares “que ajudam bastante a preservar a paz e a ordem pública no país.

Ainda no contexto internacional, mas mais no quadro multilateral e lusófono, João Lourenço reafirmou a importância da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) no relacionamento entre os povos que a integram.

“[A CPLP] constitui uma plataforma que nos permite, tendo como base a língua portuguesa e a nossa multiculturalidade, concertar posições e procurar soluções para os assuntos mais candentes da vida interna dos nossos países e da atualidade internacional”, observou.

Mais especificamente ainda, o presidente angolano disse estar “convencido” que a visita de Marcelo a Angola vai permitir que se crie uma “nova dinâmica” nas relações bilaterais, de forma a estabelecer-se “uma maior facilidade de circulação entre os cidadãos de ambos os países”.

“Devemos tirar o maior proveito possível da informalidade que vos [de Marcelo] é característica, do vosso passado e vocação africanista e da empatia que entre nós existe, para juntos darmos um novo e decisivo impulso às relações diplomáticas e de cooperação económica entre os nossos países Angola e Portugal”, defendeu.

Ao terminar a intervenção de “afetos”, João Lourenço, virando-se para Marcelo, pediu-lhe que, enquanto durar a visita de Estado, se “sinta como a estrela que mais brilha no firmamento angolano”.

“Reitero os meus votos de que a estada de Vossa Excelência entre nós seja a mais agradável possível, atendendo até à popularidade que goza pessoalmente entre nós, traduzida nas expressões de afeto com que os angolanos o brindam nas ruas, a começar pelo carinhoso nome com que o batizaram e que não vou pronunciar aqui”, concluiu João Lourenço, aludindo ao nome “Ti Celito”.

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