Cultura

Isaura edita hoje álbum de estreia que acontecimento inesperado dividiu em duas partes

“Human”, álbum de estreia de Isaura, editado hoje, reflete os dois últimos anos da vida da cantora e compositora, e acabou por ser divido em duas partes, devido a um acontecimento inesperado, a morte da avó.

Isaura, de 28 anos, começou há dois a compor temas para “Human”. “No início foi muito a medo, quase a fazer canções para me convencer de que era capaz de fazer um álbum. A primeira [‘Don’t give up’] e a segunda [‘High Away’] são claramente a minha ‘pep talk’ [conversa de incentivo]: ‘Vá Isaura, tu consegues'”, recordou em entrevista à agência Lusa.

Depois de um EP, “Serendipity” (2015), veio o contrato com “uma editora gigante”, a Universal, que tem artistas que respeita “muito e pessoas a trabalhar que fazem as coisas mesmo a sério”, e Isaura “não queria falhar”.

“Costuma dizer-se que às vezes o que custa é começar, e comigo aconteceu isso, custou-me começar, mas depois entrei no processo”, contou.

Licenciada em Biologia Molecular e Celular e com um mestrado em Comunicação em Ciência, nessa altura, como hoje, conjugava a música e o emprego em marketing digital, nas áreas de Saúde e Ciência.

Não quis deixar o emprego porque a filosofia que adotou com a música foi dar-lhe “o melhor espaço”, ou seja, “não colocar na música qualquer tipo de pressão ou qualquer tipo de necessidade financeira”.

Apesar de nem sempre ser fácil, Isaura admite que tem “sorte”, já que trabalha “em escritório virtual”, o que lhe permite “ter horários flexíveis”.

“Tinha só estas coisas que me preocupavam e essas primeiras canções acabam por ser um bocadinho mais leves, mais ‘up tempo’, mais dançáveis, mais ritmadas, é então o ‘lado A’, cuja composição foi feita em cerca de seis meses”, disse.

A cantora e compositora fala num ‘lado A’, porque, a dada altura, no percurso de criação de “Human”, um acontecimento inesperado, a morte da avó, acabou por ‘dividir’ o álbum a meio.

“Tudo o que estava a fazer parou, deixou de fazer sentido para mim, tive uns três ou quatro meses em que não me apetecia escrever nem compor nada”, recordou.

Quando voltou ao processo de criação do disco, teve de decidir “se pegava em tudo o que tinha feito e punha de parte ou se, de alguma forma, conseguia arrumar aquilo na história”.

Acabou por dividir o álbum “em duas metades”. “A segunda parte era o que me saía, porque a música acaba por ser muito terapêutica e contar muito do que se passa comigo e com as pessoas à minha volta, e foi inevitável falar do que se passava”, afirmou.

As canções do ‘lado B’ “são um bocadinho mais nostálgicas, mais intensas, quase o oposto do ‘lado A'”.

O que dá a coerência ao disco, explicou, é o ser humano que o criou. “Não fazia sentido inventar outra coisa qualquer. Vais na tua vida, de repente acontece-te uma coisa de que não estás à espera e tens de lidar com isso, fazer as coisas, e isso acaba por ser o conceito do álbum”, disse.

É também entre as duas metades de criação do disco que surge o convite para compor um tema para o Festival da Canção, ao qual teve “que dizer logo que sim”. “A oportunidade de escrever em português e fazer uma coisa que ficasse na história do que somos musicalmente no país é aliciante. Foi inevitável, tive que aceitar”, justificou.

“O Jardim”, tema que dedicou à avó, acabou por vencer e representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção, que decorreu em maio, em Lisboa. Depois disso, Isaura ainda ponderou incluir o tema no disco.

“A interpretação da Cláudia [Pascoal] está muito parecida com o que eu fiz, mas há duas ou três nuances que são dela. Como me habituei a ouvir aquilo daquela maneira, quando a fui interpretar à minha maneira já o fazia com as influências que a Cláudia tinha colocado na canção, e senti que assim não fazia sentido, e preferi não colocar”, explicou.

Para participar na Eurovisão acabou por tirar férias no emprego e adiar a data de edição de “Human”. Dessa experiência nota um aumento de “comentários e mensagens” que recebe de espanhóis, cidadãos do Norte da Europa, da Lituânia e da Holanda.

“Há uma comunidade muito unida na Eurovisão em que as pessoas têm curiosidade e querem apoiar aqueles que fizeram parte da história da Eurovisão, noto um bocadinho esse padrão”, disse.

No meio disto tudo, durante a composição de “Human”, Isaura continuou a ouvir a música de sempre, “com influência dos [anos] 80, ‘pop’ e o ‘pop eletrónico'”, mas também começou a ouvir “muito ‘hip-hop'” e “é giro porque se nota” no disco.

“O meu objetivo do ponto de vista de sonoridades era começar com canções que lembrassem as pessoas do ‘Serendipity’ e que começasse a caminhar para o ‘pop’ eletrónico, ‘synth pop’, ‘hip-hop’, que fizesse este caminho”, referiu.

O único convidado do álbum é um ‘rapper’, ProfJam, em “I keep persisting”.

“Sentia que a canção precisava de uma voz a ‘rappar’. Vem o ProfJam e faz aquilo muito bem. Tive que lhe dizer muito pouco sobre a história da canção, ele rapidamente percebeu o que eu queria dizer e o que queria fazer”, contou.

Além de ProfJam, “Human” conta com a colaboração de seis produtores: Cut Slack, Pedro, Diogo Piçarra, Karetus, Fred Ferreira e Lhast.

Ao vivo, Isaura apresenta-se “como banda”. “Tenho a componente eletrónica e, além disso, o Johnny Abbey (guitarrista), o Vicente (sintetizadores) e Gonçalo (bateria). Encontrámos equilíbrio entre o que é o disco e como se transforma para o palco – quando se ouve as canções ao vivo têm um bocadinho mais de intensidade”, descreveu.

Tal poderá ser comprovado a 21 de julho, no festival Super Bock Super Rock.

Em destaque

Subir