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Investigador salienta adaptabilidade da videira às alterações climáticas

O investigador António Graça disse hoje que o setor do vinho tem “a grande sorte de trabalhar com a videira e dificilmente conseguia encontrar uma planta mais adaptável” às alterações climáticas, visto que “produz uvas no mundo inteiro”.

O também responsável pelo Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Sogrape Vinhos falava à agência Lusa após hoje ter participado numa das sessões do segundo dia da conferência internacional Climate Change Leadreship, na qual estão em debate as alterações climáticas e as soluções para a indústria vinho lhes fazer face.

A conferência termina na quinta-feira com uma intervenção do ex-vice-presidente dos Estados Unidos nos mandatos de Bill Clinton e ativista ambiental Al Gore.

António Graça notou que esta conferência internacional reúne “pessoas de zonas diferentes, com tipos de vinhos distintos e territórios bastante diversos e têm uma ideia comum sobre como lidar com as alterações climáticas, sobretudo quanto à necessidade de continuar o esforço para a mitigação das emissões de dióxido de carbono”.

“Existe a consciência de que vamos viver num mundo mais quente durante décadas, eventualmente alguns séculos, mesmo que as emissões terminassem hoje”, uma convicção que Kimberly Thomas, da Universidade de Lund, na Suécia, manifestou também a sua intervenção.

Outros palestrantes defenderam uma forte aposta na “resiliência” da videira e António Graça também, recordando tratar-se de uma planta com “uma capacidade de adaptação muito superior a muitas outras”.

“É muito importante usar o conhecimento científico existente na tomada de decisões, sobretudo porque o prazo de validade de uma vinha cifra-se em décadas. Ninguém planta uma vinha para a arrancar dez anos depois. O objetivo é que a vinha dure 50 ou 60 anos”, afirma António Graça

O conhecimento, prosseguiu, deve ser usado para “plantar hoje a vinha com as castas e os porta-enxertos corretos”, apurar se é necessário ter irrigação e que sistemas de condução são os mais adequados às videiras, “para fazer face à evolução nas próximas décadas”.

A conservação da água e o seu uso racional, para prevenir situações de escassez e de secura extrema, é outra ferramenta essencial face às alterações climáticas e a Sogrape já o faz, exemplificou António Graça, pois só usa irrigação em 30 por cento das suas vinhas no Alentejo e parte do Douro Superior.

“O que fazemos semanalmente é medir a força que a planta tem de fazer para extrair água do solo. É como se estivéssemos a tirar a pressão arterial à videira, e isso permite-nos fazer uma aplicação da água quase individualizada a cada planta”, o que a empresa pratica há já sete anos, completou

O Alentejo e o Douro Superior são as regiões vinícolas portuguesas onde o efeito conjunto da temperatura elevada com a secura mais se faz sentir, segundo António Graça, referindo que “em 2017 foram encontramos plantas mortas por colapso vascular, isto e, por alta de água”, sobretudo no Douro Superior

“Contudo, para produzirmos vinhos de qualidade a videira não pode estar numa situação de total conforto, tem que ter sempre algum stresse e o stresse é induzido pela falta de alguma falta de água”, observou.

António Graça salientou ainda que, perante as alterações climáticas, “as melhores castas são as que têm o ciclo vegetativo mais longo, como é o caso do Tinto Cão, uma das mais usadas para fazer vinho do Porto, para amadurecerem no tempo certo”, ao passo que “o cabernet sauvignon é talvez a mais notória a nível internacional”.

O investigador diz que a indústria do vinho não tem que recear pelo seu futuro, porque tem “a grande sorte de trabalhar com a videira e dificilmente conseguia encontrar uma plana mais adaptável, basta olhar para a quantidade de locais onde ela cresce e produz uvas no mundo inteiro. É altamente adaptável”.

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