Tecnologia utilizada irá revolucionar os programas de monitorização com base no ADN ambiental
Um grupo de investigadores portugueses esteve recentemente no Ártico a recolher amostras de ADN ambiental em condições extremas. Para isso, utilizaram uma tecnologia, de nome biosampler, que facilita a tarefa dos biólogos que vão depois analisar as amostras. O biosampler foi acoplado a um robô para que as duas tecnologias portuguesas pudessem operar autonomamente. Os investigadores regressaram a Portugal com amostras, recolhidas em diferentes pontos do Ártico, e que vão agora ser submetidas a análise em laboratório.
A tecnologia biosampler é portuguesa e tem assinatura do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR). A tecnologia tem vindo a evoluir ao longo dos anos de colaboração entre estas duas entidades e, mais recentemente, no âmbito dos projetos Connect2Oceans e MicroArtic, ambos financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), teve a oportunidade de ser testada num ambiente extremo, descendo a 15 metros de profundidade em águas com temperaturas baixas oriundas do degelo dos glaciares localizados nos fiordes de Svalbard.
A equipa portuguesa que viajou até ao Ártico, para além de validar o biosampler de forma individual, quis ir mais longe na exploração da tecnologia existente. Para isso, acoplaram o biosampler ao robô IRIS, desenvolvido pelo INESC TEC. Esta ação permitiu aos investigadores recolherem amostras nas várias estações de amostragem do programa de monitorização de forma totalmente autónoma.
“O biosampler é um sensor, em forma de cilindro, que conseguimos programar para recolher amostras de eDNA. Tem várias vantagens quando comparado com os métodos de recolha tradicionais, que envolvem a recolha de amostras em garrafas de Niskin, cujo conteúdo é filtrado apenas no laboratório. O facto de termos acoplado o biosampler na IRIS e permitir que os dois operassem autonomamente, a determinada profundidade e a baixas temperaturas da água, foi também mais um desafio de engenharia”, explica Alfredo Martins, investigador do INESC TEC, que é também docente no ISEP.
Entre as vantagens desta tecnologia estão, por exemplo, a possibilidade de programar as horas e datas de recolha, a recolha de um maior número de amostras, a redução de contaminação das amostras, uma vez que a filtragem é feita in loco, e ainda trazendo já a amostra pronta para ser analisada em laboratório.
“As amostras recolhidas pelo biosampler e pelo método standard manual estão, neste momento, no CIIMAR para análise, onde o eDNA será extraído e sequenciado de forma a avaliarmos a capacidade do sistema autónomo na avaliação da biodiversidade destes ambientes remotos. Esta tecnologia vai revolucionar a capacidade atual da monitorização biológica nos ecossistemas marinhos com particular relevância no Oceano Ártico onde é urgente compreender o impacto das alterações climáticas nas comunidades biológicas”, explica Catarina Magalhães, investigadora do CIIMAR.
Os investigadores traçaram o objetivo, a dois anos, de operarem esta tecnologia a mil metros de profundidade. Até lá, os trabalhos que decorrem em ambientes extremos, como o Ártico, continuarão a precisar de apoio humano se quiserem fazer recolha de amostras a mais de 40 metros de profundidade (limite atual). No entanto, a expectativa é de que o biosampler, num curto espaço de tempo, suporte quer as condições de profundidade quer as de temperatura necessárias para superarem estes desafios.
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