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Intolerância à lactose? Especialista diz que é “moda sem fundamento”

A ex-diretora do serviço de endocrinologia do Hospital de Santa Maria afirmou que não existe qualquer fundamento científico que sustente a intolerância à lactose. “É uma moda”, garantiu Isabel do Carmo, suspeitando “da indústria norte-americana de produção de soja e leite de soja”.

A garantia é dada pela antiga diretora do serviço de endocrinologia do Hospital de Santa Maria: a já famosa intolerância à lactose “é uma moda”.

“A história da intolerância ao leite está mal contada”, explicou Isabel do Carmo, ao antecipar, para a Lusa, a relação entre o leite e a evolução do ser humano na Europa, no âmbito do painel ‘Elogio do leite’, no seminário ‘Consumo de leite e laticínios – O que pode estar a mudar’

Em causa está a mutação que dotou os humanos da lactase, uma enzima que desdobra a lactose e permite ao organismo processar este açúcar.

“A mutação tem sete mil anos e não há nenhuma mutação atual ao contrário”, argumentou: “A intolerância é uma moda, que suspeito seja influência da indústria norte-americana de produção de soja e leite de soja”.

“O ser humano estabeleceu-se há sete mil anos com o pastoreio”, insistiu a endocrinologista: “Nessa altura, o adulto perdia a lactase. Houve depois uma mutação que permitiu que desdobrasse a lactose”.

O leite faz mal?

Para além de frisar que a suposta intolerância à lactose é uma moda sem qualquer fundamento científico, Isabel do Carmo contestou ainda uma outra moda relacionada: a redução e até mesmo o fim do consumo de derivados de leite.

“Quando o leite se transforma em iogurte ou queijo, mesmo para quem tenha efetivamente intolerância, deixa de haver lactose e passa a haver ácido láctico [a lactose transforma-se em ácido láctico por fermentação] e o valor nutricional mantém-se”, explicou.

Admitindo que algumas pessoas tenham mesmo intolerância ao leite, a especialista aconselhou as pessoas a fazerem testes laboratoriais para o confirmar.

Isto porque o leite, sublinhou, é um alimento completo para crianças e quase completo para o adulto, com alto valor nutricional.

Num outro painel, ‘factos, mitos e enganos’, Pedro Graça defendeu uma opinião semelhante.

O leite fornece “uma série de nutrientes de forma muito concentrada”, destacou o especialista da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, cuja intervenção se centrava nos motivos que levam algumas pessoas a terem receio de consumir leite.

São três perspetivas, realçou: a saúde (a “moda” da intolerâncias), o ambiente (o impacto das vacas no consumo de energia e na produção de gases com efeito de estufa) e os direitos dos animais (as condições em que são criados).

O principal destaque recai nas questões de saúde, pois o leite é “um excelente alimento”, permite a produção de derivados, pode ser utilizado para diversos fins culinários e, de um ponto de vista nutricional, fornece proteínas, vitaminas e minerais de elevada qualidade e baixo valor energético.

“Dois copos de leite fornecem um terço das necessidades diárias de uma pessoa”, garantiu Pedro Graça, lembrando ainda que já se extrai a gordura (saturada) do leite, o que reduziu os riscos para a saúde (essencialmente cardiovasculares) associados ao consumo.

Na qualidade de diretor do Programa Nacional de Alimentação Saudável, frisou também que “o leite é também um produto relativamente barato, o que é importante numa altura de grandes desigualdades sociais”.

“O leite é democrático, acessível a todas as bolsas”, insistiu.

Quanto aos recentes receios de que o leite possa estar associado ao risco de desenvolvimento de alguns tipos de cancro, nos casos de consumo elevado e regular, o especialista defendeu ser uma “hipótese de trabalho que não está validada cientificamente”.

A intolerância à lactose existe e vai continuar a existir, admitiu Pedro Graça, mas o fenómeno não está a aumentar, tal como tem vindo a ocorrer com as alergias.

“O que não sabemos das alergias é a relação entre o hospedeiro e as substâncias agressoras”, explicou: “O que sabemos é que estamos em mudança do ponto de vista ambiental. Há substâncias novas ligadas ao alimento e à produção alimentar, como conservantes e aditivos, mas também o ar que respiramos. Tudo junto pode originar um conjunto de casos”.

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