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Insurgência em Cabo Delgado atrasa subida nos ‘ratings’ de Moçambique, diz analista

As notícias relativas aos ataques de grupos armados na província de Cabo Delgado “não alteram significativamente o ‘outlook’ relativo de Moçambique, que já era de risco elevado”, mas comprometem a trajetória de evolução positiva que se vinha verificando, salientou João Mendonça, diretor comercial da Aon Portugal, uma multinacional especializada em análise e gestão de riscos.

“É difícil agravar mais os níveis de risco, porque já são muito altos”, mas estes incidentes “vêm atrasar um ‘outlook’ mais favorável do país”, afirmou.

O responsável da Aon sublinhou que “há boas perspetivas de evolução” quanto ao perfil de risco do país, tendo em conta os entendimentos políticos, mas para que o ‘outlook’ se altere é necessário haver “consistência no tempo” e estabilidade a nível dos indicadores.

Nos vários indicadores de risco que a Aon mede, numa escala de 1 (baixo) a 6 (muito alto), os riscos permanecem elevados e alguns agravaram-se desde 2017 no que diz respeito à interferência política na economia, interrupções na cadeia de distribuição, riscos legais e regulatórios e violência.

“No caso de Moçambique somos sempre muito cautelosos. Os níveis de risco dos indicadores são normalmente altos ou muito altos e não têm sofrido alterações muito significativas nas análises trimestrais”, indicou João Mendonça.

As empresas incorporam também estes sinais de alerta scos nas suas decisões de investimento.

“A maioria das empresas e dos agentes económicos já incorporam um agravamento de riscos, custos logísticos, custos de financiamento e até de remunerações” quando decidem investir em Moçambique, segundo o especialista da Aon.

“Estas situações pontuais vêm agudizar um pouco o sentimento de insegurança”, mas não são uma surpresa total para as empresas.

Em fevereiro, pela primeira vez, em fevereiro, os insurgentes visaram uma petrolífera norte-americana, a Anadarko, em duas incursões separadas das quais resultaram um morto e seis feridos.

João Mendonça destacou que, embora não haja consenso sobre as motivações dos atacantes – há quem defenda que são extremistas ligados a grupos islâmicos radicais, mas também quem suspeite de interesses económicos – existe “alinhamento politico” para encontrar soluções que ajudem a resolver o problema.

“Politicamente, há vontade de resolver [o problema], existe alinhamento entre o governo e partidas da oposição e isso certamente ajuda”, comentou o analista.

Desde outubro de 2017, os ataques de grupos armados não identificados já provocaram mais de 160 mortos e um número indeterminado de feridos, entre aldeãos, atacantes e forças de segurança. Centenas de casas tradicionais (de palha e adobe) e outras infraestruturas comunitárias foram incendiadas e saqueadas e muitas pessoas fugiram receando novas agressões.

O Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, começou no início de março a julgar um grupo de suspeitos de envolvimento nos ataques armados naquela região.

O caso envolve 34 arguidos (23 moçambicanos e 11 tanzanianos) e é o segundo a chegar à barra do tribunal em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.

O primeiro julgamento arrancou em outubro, com 189 arguidos que enfrentam acusações de homicídio qualificado, posse de armas proibidas, associação para delinquir contra organização do Estado, instigação ou provocação à desobediência coletiva e perturbação da ordem e tranquilidade públicas.

Estão também detidos dois jornalistas, Amade Abubacar e Germano Daniel Adriano, cuja libertação já foi pedida por organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

As ONG têm manifestado preocupação com a violação dos direitos humanos por parte das Forças de Defesa e Segurança na resposta aos ataques, preocupações que foram confirmadas no relatório anual do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre direitos humanos no mundo que denunciou “prisões arbitrárias, perseguições a civis e encerramento de mesquitas”.

Lusa

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Lusa
Etiquetas: ÁfricaMoçambique

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