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Recebem vírus da gripe a troco de 5000 euros

Para investigar a gripe, um centro de investigação hVIVO, situado em Londres, dispôs-se a pagar 5000 euros a voluntários, que aceitaram ser infetados. O ‘pack’ incluía uma injeção com o vírus, um quarto privado com casa de banho e ligação grátis à Internet.

Não há nada melhor do que infetar o corpo com gripe para estudar a doença. E voluntários?

Não é fácil arranjá-los, mas, para superar esta aparente limitação, o centro de pesquisa hVIVO, situado em Londres, no Reino Unido, decidiu pagar a pessoas que estejam dispostas a enfrentar dores de corpo, tonturas, temperaturas altas, enfim, mal-estar geral.

O ‘pack gripe’ dá direito a 5,5 mil dólares (cerca de 5000 euros) e traz tudo o que há de negativo numa gripe, mas tudo o que há de positivo para uma… cobaia.

As pessoas que aceitarem participar neste estudo, além de uma injeção com o vírus da gripe, também receberão um quarto com casa de banho privada, com acesso à Internet, refeições gratuitas e cuidados médicos.

Pode achar que se trata de uma brincadeira, mas acredite: o hVIVO está mesmo a pagar a voluntários para avançar no estudo desta doença.

“Pretendemos saber com rigor quanto tempo é necessário para uma infeção viral, de que forma esta ocorre e também quanto tempo é preciso para as pessoas recuperarem”, explica, em declarações à BBC, Cyrus Ghobado, investigador de virologia daquele centro de pesquisa, fundado em 2001.

Para os investigadores, esta é a forma de conseguirem acompanhar todo o processo desde o início da infeção. Portanto, exige-se que o vírus seja ‘controlado’ desde o momento em que infeta o corpo humano.

O vírus da gripe é ministrado em pequenas doses, por via nasal. E o estudo pretende determinar efeitos desse vírus, desde os casos de gripe mais comuns, aos mais severos.

Os voluntários poderão ter de ser submetidos a um período de isolamento que pode chegar aos 20 dias. Não podem contactar com terceiros (exceto pessoal médico e outros profissionais do centro), a menos que o façam através das redes sociais – e assim a Internet grátis se justifica.

“A nossa equipa de cientistas é altamente qualificada e experiente. Os testes aos vírus são feitos de forma controlada, de tal forma que os investigadores sabem quais os sintomas que cada voluntário vai apresentar”, conta ainda Cyrus Ghobado.

Deitados, os voluntários recebem a dosagem. Cerca de 48 horas mais tarde, já apresentam sintomas. E às 72 horas, estão em estado gripal muito intenso.

Os estudos avançam, os voluntários são curados e recebem o pagamento. Um trabalho desagradável, mas muito bem pago.

A gripe é um problema de saúde que pode ser considerado grave em idosos e doentes crónicos, sobretudo. A vacinação é recomendada pela maioria dos médicos.

O problema reside no facto de o vírus da gripe estar em constante mutação, o que reduz a eficácia da vacina em muitos casos.

Foi tema de uma investigação recente, também na capital londrina, mas a cargo de investigadores do Imperial College de Londres. Em causa, descobrir se os casos que se suspeitavam ser de gripe o eram, na realidade. E as conclusões surpreenderam.

Para realizar este trabalho, publicado pela PLoS Biology, os investigadores contaram com o apoio de 150 voluntários (cujas idades variam entre os 7 e os 81 anos) e analisaram nove das principais variedades de gripe, que foram detetadas em todo o mundo, entre os anos de 1968 e 2009.

A equipa de cientistas britânica tentou descobrir se os voluntários tinham sido infetados com o vírus da gripe e com que frequência.

Depois, verificaram que, no caso das crianças, havia um caso de gripe de dois em dois anos. A partir dos 30 anos, as infeções eram menos frequentes: duas vezes de 10 em 10 anos.

“Na infância e adolescência, a gripe é mais comum. No caso dos adultos, descobrimos que a infecção é muito menos comum do que as pessoas julgam”, explica o investigador Steven Riley, um dos autores da pesquisa.

Mas porque julgamos que temos gripe, se na realidade os casos são tão raros? A resposta encontra-se nos sintomas de algumas infeções, que são semelhantes aos da gripe.

E assim torna-se difícil diferenciá-los, o que nos leva a considerar que estamos com um problema que na realidade não temos.

 

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