Cultura

Inéditos de Natália Correia em obra da investigadora Ângela de Almeida

Textos inéditos da poetisa Natália Correia estão agora disponíveis em livro na sequência de uma investigação da escritora Ângela de Almeida para a Direção Regional da Cultura dos Açores.

Ângela Almeida, cuja tese de doutoramento, em 2005, versou justamente a vida e obra da poetisa – nascida em 1923 na freguesia da Fajã de Baixo, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel – declarou à agência Lusa que a obra “Natália Correia – um compromisso com a humanidade” pretende divulgar o “máximo possível” da obra inédita e “dar voz” àquele perfil literário português.

Ao longo de 254 páginas, a investigadora pretende transmitir que Natália Correia tinha um “pensamento muito importante” e “e era o que foi: uma escritora comprometida com a humanidade”.

Para os leitores que serão confrontados pela primeira vez com a obra da poetisa, a investigadora destaca o seu “caráter extremamente atual em termos temáticos”, a par da “unidade temática e de estilo da sua escrita entre o que foi publicado e que é inédito”.

Ângela Almeida refere que quando terminou o seu doutoramento “era perfeitamente estranho levar a obra de Natália Correia a uma universidade porque havia um certo ‘temor’ em relação à imensidão de conhecimento daquela mulher”, a par do facto de, “muitas vezes, se fazer uma leitura superficial e não interiorizada” da sua obra.

“Ficava-se pela imagem de uma figura que proporcionava algum espetáculo ou que necessitava de algum efeito de plateia, que a terá utilizado, eventualmente, para poder proclamar e ouvir as suas causas. Quem não conhece a sua obra, de facto, e atreve-se a fazer comentários menos próprios, é, de certa forma, uma ignorância atrevida, também. É preciso primeiro ler a obra de um autor”, declara a escritora.

Considerada “uma das grandes vozes da segunda metade do século XX” da cultura portuguesa e europeia, Natália Correia contribuiu, de acordo com a investigadora, para a “defesa da condição feminina e todas as formas de igualdade”, a par da defesa do ambiente, onde tinha “posições ecológicas bastante relevantes”.

Bateu-se pela “defesa intransigente da paz” e do amor como “culto da humanidade futura”, como escreveu, não como “conceito simplista mas sim como meio para unir os apostos”.

No prefácio da obra, a estudiosa da obra da poetisa escreve que Natália Correia “escrevia com o mundo no colo: as antinomias e as antíteses existenciais ditaram-lhe uma escrita, lugar da alteridade utópica, onde os contrários se fundiam, criando lagos do Absoluto, que então eternizava numa ‘rêverie’ poética, assente nesta constelação superior que é o amor, enquanto via única que permite a ascensão”.

Para além de poetisa, Natália Correia foi deputada à Assembleia da República, interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres, tendo sido autora da letra do Hino dos Açores.

Foi uma figura ativa nos movimentos de oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD – Movimento de Unidade Democrática, em 1945.

Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação da “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica” por ser considerada ofensiva dos costumes, e processada por ter tido a responsabilidade editorial das “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, processo que ficaria conhecido como “Três Marias”.

Fundou em 1971, com Isabel Meireles, o bar Botequim, onde durante as décadas de 70 e 80 do século XX reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa.

Apesar de ter nascido nos Açores, viveu toda a sua vida em Lisboa, vindo a falecer em 16 de março de 1993.

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