Mundo

Hanói em festa e com “nível máximo de segurança” para receber cimeira Trump/Kim

Hanói está hoje a apressar os preparativos para receber o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, numa cimeira de grande foco mediático e decisiva para a paz na Ásia.

Cerca de três mil jornalistas, oriundos de 40 países, são esta semana esperados na capital vietnamita, e o ministro de Informação do país, Nguyen Manh Hung, prometeu já que podem contar com o seu ministério como se fosse “um membro das suas famílias”.

Trump e Kim reúnem dia 27 e 28 de fevereiro, visando pôr fim a um dos maiores desafios à estabilidade na Ásia: o programa nuclear norte-coreano.

Apesar de analistas considerarem difícil que Kim abdique do armamento nuclear – garantia de sobrevivência do seu regime -, o ambiente em Hanói é festivo, com as autoridades vietnamitas a prometerem contribuir para a paz mundial.

Centenas de bandeiras dos três países – Estados Unidos, Coreia do Norte e Vietname -, vasos de flores e um símbolo com um aperto de mão ornamentam hoje os candeeiros nas principais ruas de Hanói.

Lojas vendem t-shirts com o rosto de Kim Jong-un e a legenda “Rocket Man” (‘homem-foguete’) – o apelido que Trump deu ao líder norte-coreano, em 2017, durante tensões inéditas desde a Guerra da Coreia (1950-1953), face aos sucessivos testes nucleares de Pyongyang.

O Governo vietnamita prometeu segurança máxima para os dois líderes.

“A segurança estará no nível máximo”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Vietname, Le Hoai Trung, em conferência de imprensa.

Hanói proibiu o trânsito ao longo da rota que deverá ser percorrida por Kim, que se desloca de comboio desde a Coreia do Norte até à fronteira entre a China e o Vietname, segundo a agência sul-coreana Yonhap.

A proibição afeta um trecho de 169 quilómetros, que liga a cidade fronteiriça de Dong Dang a Hanói.

Segundo a Yonhap, Kim partiu de comboio de Pyongyang, no sábado, e passou hoje por Wuhan, Changsha e Hengyang, centro da China, acompanhado de um forte esquema de segurança. Após chegar a Dong Dang, o líder vietnamita deverá deslocar-se de limusina até Hanói.

O regime norte-coreano é extremamente zeloso quanto à segurança das suas elites, pelo que a opacidade é habitual em relação a planos e itinerários.

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, afirmou hoje que a cimeira é uma “oportunidade crítica” para alcançar a paz na Península Coreana.

“Se o presidente Trump conseguir dissolver o último legado da Guerra Fria, será um grande feito para sempre registado na História”, afirmou Moon.

Mas Trump previu em Hanói uma “continuação do progresso” registado em Singapura, enquanto acenou com boas perspetivas económicas, caso Pyongyang aceite a “desnuclearização”.

“O presidente Kim [Jong-un] já percebeu, possivelmente melhor do que ninguém, que sem armas nucleares o país pode tornar-se mais rapidamente uma das maiores potências económicas do mundo”, escreveu Trump, no Twitter.

Pyongyang foi já sujeita a décadas de isolamento e pobreza extrema para desenvolver o seu programa nuclear, pelo que analistas consideram difícil que Kim abdique do seu armamento.

Tong Zhao, especialista sobre a Coreia do Norte no centro de pesquisa de política global Carnegie-Tsinghua, com sede em Pequim, considera mesmo que “todos os sinais” indicam que a Coreia do Norte não está preparada para abdicar das suas armas nucleares.

“A Coreia do Norte fez grandes esforços para ocultar informações técnicas sobre os testes nucleares anteriores ou a composição e design do seu armamento: isto revela que eles não querem minar a sua capacidade de dissuasão nuclear”, descreve.

Para o analista, o “problema fundamental” é que a Coreia do Norte “não pode confiar” em garantias de segurança dadas pelos EUA.

“A Coreia do Norte sente que a sobrevivência do seu regime depende da dissuasão nuclear”, diz.

A Guerra da Coreia terminou com a assinatura de um armistício que nunca foi substituído por um tratado de paz, o que significa que Coreia do Norte e Coreia do Sul continuam tecnicamente em guerra.

Os EUA, que lutaram ao lado das tropas sul-coreanas, mantêm 28.500 soldados destacados na Coreia do Sul desde o fim do conflito.

No fim de semana, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, afirmou que espera um “substantivo passo em frente”, mas advertiu: “Talvez não aconteça, mas é esse o meu desejo”.

Em destaque

Subir