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“Há dias de mer**”. A arrepiante homenagem de um piloto às vítimas do heli do INEM

As homenagens às vítimas da queda do heli do INEM, em Valongo, sucedem-se, e todas elas carregam em si particularidades, memórias e histórias, no fundo, gestos de reconhecimento a quem perdeu a vida a salvar a dos outros. Uma dessas homenagens é feita por um colega de curso do piloto que tragicamente perdeu a vida na serra de Santa Justa, em Valongo, e que horas antes se cruzou nos céus da vida. Uma homenagem ao amigo mas também aos “outros três excelentes profissionais”.

Quando o ‘Merlin 37’ deslocou do Porto em direção à fria Genebra estava longe de imaginar como terminaria aquele sábado fatídico para um velho parceiro de escola de voo.

“Pouco antes de entrar em espaço aéreo espanhol ouvimos na frequência um helicóptero do INEM em comunicação com Lisboa. Dirigia-se para o Porto. Como ex-piloto de helicópteros da Força Aérea, lembro-me de pensar que uns 30.000 pés abaixo de nós, estaria provavelmente um amigo e ex-camarada meu”, começa por contar aquele que se identifica apenas e só por ‘Merlin 37’.

Depois de voltar de Genebra e no regresso à Invicta, quando entrou em espaço aéreo português, ‘Merlin 37’ percebeu que algo estava fora do normal, mas longe de pensar no que, efetivamente, teria acontecido.

“O sistema de defesa aérea nacional, a cargo da Força Aérea, tentava entrar em contacto com o mesmo helicóptero do INEM sem sucesso. Comentei no cockpit que ‘a malta do INEM devia ter aterrado algures por causa do mau tempo’. Chegámos ao Porto pouco depois e seguimos para o Funchal.”

Mas ‘Merlin 37’ estava longe de imaginar que enquanto voava para a ‘Pérola do Atlântico’, prosseguindo o seu destino, acabava de perder um amigo naquela que, horas mais tarde, se revelaria uma tragédia.

“Há dias de merda. Lá em baixo, para lá daqueles 30.000 pés, estava efectivamente um amigo e camarada. Alguém que esteve comigo na mesma esquadra de voo. Alguém que esteve presente no meu último voo como piloto militar. Com ele, outros três excelentes profissionais. E aqui, nestes dias de merda, a experiência não torna as coisas mais fáceis.”

Nas linhas que dedica no seu blogue ao amigo que voou para servir uma causa e acabou por fazer a sua última viagem, ‘Merlin 37’ desabafa que “ver camaradas ‘voarem’ para o seu derradeiro voo não fica mais fácil com o tempo”.

“Pelo contrário. Torna-se mais doloroso. Especialmente quando o fazem no desenrolar de uma missão em prol de todos nós.”

No testemunho arrepiante, o piloto deixa um apelo ao amigo, onde quer que ele esteja.

“Guarda-me uma cerveja. Encontrar-nos-emos novamente.”

O helicóptero do INEM partiu do heliporto de Massarelos, após ter feito um transporte de uma mulher de 76 anos com problemas cardíacos graves do Hospital Distrital de Bragança para o Hospital de Santo António, no Porto.

O aparelho dirigia-se para Baltar, no concelho de Paredes, para abastecer e depois voltar à base em Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança.

A viagem acabou tragicamente na serra de Santa Justa, em Valongo, no distrito do Porto.

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