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Grupo de 26 aderentes sai do Bloco porque “pouco resta do projeto original”

Um grupo de 26 bloquistas anunciou hoje a saída do partido por considerar que “pouco resta do projeto original”, criticando “o caminho de institucionalização” e a transformação do BE “num projeto reformista centrado na sua própria sobrevivência”.

Numa carta dirigida à Mesa Nacional do BE – órgão máximo entre convenções -, os 26 aderentes explicam as razões da saída do partido, com duras críticas ao rumo que tem vindo a ser seguido e que fez o BE tornar-se “numa organização hierárquica e cristalizada”.

“Conscientes de que pouco resta do projeto original do Bloco de Esquerda de ser uma força política em alternativa à sociedade existente, resolvemos deixar o partido no qual militámos ativamente até agora”, pode ler-se logo no arranque da carta, que foi inicialmente divulgada pelo jornal i.

Os bloquistas que agora saem do partido justificam a decisão porque não podem ignorar “o caminho de institucionalização dos últimos anos que transformaram o partido, de instrumento de luta política, num fim em si mesmo”.

“O taticismo de decisões, o jogo da comunicação na sua forma burguesa, a ausência de qualquer ativismo local inserido numa estratégia de construção do partido, a progressiva ausência de pensamento crítico acompanhada pela hostilização da divergência interna e profundo sectarismo com outras forças de esquerda transformaram o Bloco de Esquerda num projeto reformista centrado na sua própria sobrevivência”, condenam.

Contactada pela agência Lusa, fonte oficial do partido escusou-se a fazer qualquer comentário sobre esta saída.

Entre os aderentes que agora abandonam o partido estão três nomes que fazem parte do grupo de quase 250 subscritores que assinaram a declaração que fundou o partido há quase duas décadas: João Carlos Louçã, Maria José Martins e Sérgio Vitorino.

Segundo a carta, o taticismo de que acusam a atual direção esteve patente na “posição tíbia a propósito dos incidentes recentes no Bairro da Jamaica no Seixal ou o desconforto sentido por ter sido um seu militante e assessor, Mamadou Ba, que protagonizou a denúncia de serem as forças policiais responsáveis por um racismo sistémico dirigido contra africanos e afrodescendentes dos bairros pobres”.

“Ao ocultar esse racismo sistémico das forças de segurança e dos agentes do Estado, o Bloco coloca-se no lado errado do combate antirracista e perde espaço junto de uma geração que perdeu o medo e que trava os combates decisivos do nosso tempo”, lamentam.

Os dissidentes acusam o BE de não ter espaço para a construção coletiva, perseguir e expulsar militantes, e manipular eleições internas “de forma a garantir a ficção de um partido coeso, ao mesmo tempo que a grande maioria dos e das aderentes se abstém em todos os processos de debate e decisão onde imperam os acordos de cúpula”.

“Em ano de eleições europeias e legislativas, a ideia de que o partido está unido será pouco beliscada por esta nossa decisão, certamente menorizada e combatida politicamente”, antecipam ainda.

Para estes 26 aderentes “o tempo de militância no Bloco de Esquerda acabou”.

“Começamos de novo quando ainda está tudo por fazer”, terminam, usando o mesmo mote da declaração que fundou o BE.

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